rio de janeiro e suas belezas

rio de janeiro e suas belezas
I LOVE YOU RJ

terça-feira, 6 de novembro de 2018

ENREDOS DAS ESCOLAS DE SAMBA _ GRUPO ESPECIAL 2019

 

"O QUE É, O QUE É?" 
SINOPSE


"E a vida?
e a vida o que é diga lá, meu irmão?"


Alguma vez você já parou para se perguntar sobre isso?
Acreditamos que sim.
Seria a vida somente existir?
Seria ela somente amar, trabalhar, criar, acumular e vencer ou seria somente sofrimento e dor?
Seria alegria ou lamento? Seria luta ou prazer?
Seria tudo isso junto ou não seria nada disso?

"Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo
é uma gota é um tempo que nem dá um segundo..."


A pergunta nos pega de surpresa. Nos faz parar para pensar, nos obriga a refletir.
Seria a vida uma aventura?
Se for, sinta, ame, ria, chore, brinque, ganhe, perca, tropece, mas levante-se e siga em frente. Sempre!
Se for uma viagem, que você seja o melhor passageiro, em direção aos melhores rumos.
Se for um presente, que seja aquele que há tempos você deseja! Se for uma guerra, que você seja o tratado de paz.
Mas se a vida for amor, que ela seja o melhor romance!
Aqueles amores à primeira vista!
Afinal...

"Somos nós que fazemos a vida
como der ou puder ou quiser..."


E o que você faz da sua vida? Pois ela é você quem faz, as decisões são suas. É o seu querer que define o que você será!
Faça dela um frenesi, uma ilusão, um sonho, mas transforme tudo isto em realidade, sem medos!
Afinal, ela pode tomar diferentes rumos, mas é você que escolhe como vai encará-los, como num labirinto, procurando os melhores caminhos.
Lembre-se: a sua vida pode te levar à imortalidade. E isto só depende de você!
Agora tomem um tempo para pensar o que é a vida para vocês,
pois para nós, o Império Serrano, é nunca perder a alegria, é renovar a fé no mundo e nas pessoas.
Para nós, viver é cantar, cantar, cantar... e nunca ter vergonha de ser feliz!
Pois para nós, a vida é bonita, é bonita e é bonita!

Canavalesco: Paulo Menezes



 
 
“ViraViradouro!”
SINOPSE

Cresci ouvindo as histórias que Vovó me contava desde muito pequeno. Lembro-me bem de uma das últimas noites em que sentei ao seu lado para ouvi-la sem hora para terminar. O tempo parecia não existir, mas a verdade é que ele havia me alcançado e, sem que eu percebesse, toda a fantasia dos tempos de criança se desfez. Até que… naquela noite inesquecível, ela me chamou mais uma vez e, com um olhar misterioso, disse: “Venha… quero lhe mostrar um segredo!”.

De uma pesada gaveta da estante, sacou um antigo volume de capa de couro escura, com o título: VIRAVIRADOURO! O LIVRO SECRETO DOS ENCANTOS. E ordenou: “Preste bem atenção… porque essa é a palavra mágica que transformará nosso conto em encanto. E tudo o que acontecer daqui por diante deve ficar entre nós…”, e soltou uma gargalhada impressionante… Vovó, uma bruxa??? O que se passou a partir daquele momento é o que vamos descobrir agora.

Sentei curioso, ao seu lado, com saudades de ouvi-la contar mais uma das deliciosas aventuras que animaram a minha infância. Vovó começou: “Conhecemos histórias muito antigas, que chegam até nós através de livros e de contadores. Elas guardam mistérios sem fim!”, disse, enquanto abria as páginas do PRIMEIRO CAPÍTULO. E pôs-se a ler, apontando o título: “ENCANTADORES podem realizar desejos impossíveis ou lançar terríveis maldições. O pouco que se sabe sobre eles está oculto em livros muito antigos; habitam um universo enigmático e mágico. Você nunca deve zombar ou duvidar da força que possuem”. E lançou um feitiço:

“Se um Deus quiser, faz a terra tremer… ao gênio da lâmpada, você contará seus desejos; o encanto da fada faz a sorte mudar; cuidado com o diabo e sua maldição; mas é com a bruxa que começa a viração: Viraviradouro vai virar!”.

Essa palavra mágica abre os caminhos por onde entram os ENCANTADORES. Deuses, gênios, fadas madrinhas, demônios e bruxas surgem de todos os cantos e dos contos, para mostrar seus incríveis poderes capazes de provocar grandes transformações. Eles saem do livro e viram aventura na vida, na Avenida.

Vovó sorri, ao perceber minha alegria, e diz: “É com eles que começa toda a magia. Vamos ver o que traz o SEGUNDO CAPÍTULO”. E, virando as páginas mais uma vez, exclama: “Ah, os ENCANTADOS CONTOS DE FADAS! Quanta magia nos encanta desde que somos bem pequenos… Veja que linda moça dançando com seu amado, na noite do Baile Real. Parece uma princesa! Mas logo se quebrará o encanto e ela voltará a ser a pobre órfã entregue aos maus-tratos de sua madrasta. A próxima é a curiosa menina que se aventura no País das Maravilhas: experimentando de tudo, ela se transforma ao longo do caminho e até enfrenta uma rainha má. Quantas mudanças, não?”.

Pegando a folha envelhecida com a ponta dos dedos, Vovó passa mais uma página: “Esse aqui é o bichano esperto, que calça um par de botas para percorrer muitas léguas velozmente. O gatinho engana a todos e, com sua inteligência, conquista riquezas e muda o destino de seu dono”. O rosto de Vovó se ilumina, ao perceber quem está na página seguinte: “Olhe aqui, que belo soldadinho esculpido em chumbo! Lembra? Os brinquedos ganham vida durante a noite, e ele e sua bailarina de papel, enamorados, sofrem com a inveja de um cruel feiticeiro e acabam desaparecendo nas chamas de uma lareira. Tão triste como o castigo da bruxa, que transforma um príncipe arrogante em horrível besta e todos os criados de seu castelo em objetos falantes e encantados, até que ele aprenda a amar e ser amado. Mas o final dessa história é feliz… Eles se apaixonam e o feitiço se desfaz…”.

E continua: “Veja aqui, o TERCEIRO CAPÍTULO é sobre AMALDIÇOADOS e guarda uma perigosa magia. Muitos são os seres mitológicos condenados a viver o destino escolhido pela ira ou por capricho divino. Mais antigos do que a própria história, nobres ou pobres mortais, monstros ou heróis ousaram desafiar os deuses ou desejar mais do que deveriam, assim como o ambicioso rei que conquistou o poder de transformar tudo o que tocasse em ouro e seu maior desejo virou sua maldição. Pobre coitado! Não podia se alimentar, nem abraçar seus entes queridos. Ah, sim… E essa é a habilidosa tecelã transformada em uma aranha, por ousar competir com a deusa das artes do Olimpo. Presa a sua teia, ela passou a fiar seus lindos e perfeitos bordados, cada vez mais e mais…”.

O que mais está escrito no VIRAVIRADOURO? “Quem pode nos dizer é Merlin, mestre na arte da magia. O poderoso mago conhece como ninguém os mistérios da vida e da morte, dos homens e dos deuses. Dizem que Merlin ajudou a escrever esse livro”, confessa Vovó, sussurrando em meus ouvidos. Será? A magia está no ar…

“Muito cuidado agora! Feche os olhos, não olhe diretamente para ela! Fuja do terrível encanto, para não virar pedra. Essa bela sacerdotisa foi transformada, pela deusa do seu templo, em um dos mais temidos monstros da mitologia grega, após ter sido seduzida pelo deus do mar.”

Então, Vovó me pergunta, desafiando minha curiosidade: “Você conhece o navio fantasma holandês, que causa medo aos navegantes há séculos? Essa é mais uma das terríveis maldições que atormentam os sete mares. Assustadores piratas são condenados a vagar pela eternidade, em busca de liberdade, por terem desafiado a vontade dos deuses”. Lembro-me de ter visto essa assombração num filme, aliás, como muitas outras histórias. Os fantasmas pareciam tão reais na tela do cinema! Vovó sorri novamente: “Todos metem muito medo”, diz enquanto espera a legião de seres do mal, que evoca ao virar mais uma página do livro.

A noite avança e já é madrugada quando chegamos ao QUARTO CAPÍTULO: CRIATURAS DA NOITE. Está escrito: “São os filhos da escuridão que vagam pela terra ou se escondem debaixo dela, criaturas que espreitam as sombras ou caminham famintas sob a luz da Lua; por ambição, vingança ou pacto com o demônio, perderam a paz e seguem penando para todo o sempre”.

Vovó continua a leitura: “O sarcófago range e a amaldiçoada múmia do antigo Egito acorda de seu sono eterno; a Lua cheia desperta a ira do lobisomem, que andava quieto, metido no corpo de um pobre coitado; e os vampiros vagam à procura do sangue de suas vítimas inocentes, que em pouco tempo se transformam para aumentar essa legião de mortos-vivos famintos!”. Diante de toda maldade do mundo, quis saber se existiam encantos para derrotar o medo. “Existem homens corajosos que lutam contra todo tipo de crueldade. Esse lendário caçador de monstros é um deles. Já ouviu alguma de suas extraordinárias aventuras? E existem tantos outros que não acreditam que o mal possa dominar o mundo. Alguns são tão fortes que entregam a alma ao diabo, porém usam seus poderes contra ele ao longo de muitos séculos e gerações! Sim, as assombrações também se renovam. Veja, esse é um dos meus favoritos! Quando o conheci, ele andava a cavalo”, disse, rindo, enquanto me mostrava a caveira incandescente. “Hoje só anda de motocicleta, he, he…”.

E a noite avança veloz, carregando nosso maior pesadelo… Será o fim? Não vamos voltar a sonhar? Vovó me abraça e sussurra: “Não podemos quebrar o encanto e deixar o mal dominar. Ele pode nos destruir e, então, tudo se acabará! A cada dia, perdemos nossa capacidade de acreditar na fantasia… Esquecemos como é bom ser criança e brincar com a imaginação!”.

Ao abrir o ÚLTIMO CAPÍTULO do livro de magia, Vovó me diz: “Observe o pássaro mitológico, símbolo da renovação, que sempre ressurge das cinzas, de onde nada mais parece existir. Consegue perceber que, assim como ele, a vida renasce em todos os seres da floresta encantada? Se você acreditar, poderá vê-los de novo!”. E lá estão eles e elas! Inquietos gnomos, agitadas fadas, elfos incansáveis que dominam a água, o ar, a terra e o fogo; surgem para reinventar a vida, renovar nossas forças e nossos sonhos.

Ah, então, ViraViradouro é a magia de quem só quer alegria para a vida virar! Divertir quem gosta de histórias, brincar com a memória e nos transformar. Queimar a semente do mal e renascer das cinzas, se não for por toda a vida, que seja na Avenida, numa noite de Carnaval! E Vovó me revela: “Essa é a última página do Livro de Encantos de mais uma história sem fim. Invente a sua, acredite e seja feliz! Viraviradouro vai virar!”.

Carnavalesco: Paulo Barros

Isabel Azevedo | Simone Martins | Ana Paula Trindade | Paulo Barros

*Texto divulgado à imprensa 





 
“Quem nunca… Que atire a primeira pedra!”

SINOPSE


Fala sério aqui com a gente, “de boas”, “numa boa”, francamente: quem nunca saiu dos trilhos, perdeu o prumo, deu detalhe, rodou a baiana, chutou o balde e o pau da barraca, armou um barraco ou mesmo deu uma virada de mesa? Um deslize, uma gafezinha qualquer ou uma falta de educação das grossas mesmo? Quem nunca? Eu, você, todo mundo, pelo menos uma vez, já esqueceu etiquetas, manuais e regulamentos e atravessou o samba na passarela dessa vida.

Que atire a primeira pedra quem nunca. Ou melhor, atirar pedra, não, porque aí já é falta de educação outra vez.

Tão humano quanto o ato bíblico de atirar a primeira pedra são os nossos maus hábitos que expressam impaciência, egoísmo, descuido, intolerância, “jeitinho”… ou até falta de informação.

Furar fila, fingir estar dormindo pra não ceder o banco do ônibus pra idoso ou gestante, colar chiclete embaixo da mesa, lançar a guimba do cigarro na calçada ou aderir àquele pacote do “gatonet” chegam a ser “fichinha” perto de uma série de atitudes questionáveis. E aí cada um (do alto do seu telhado de vidro) lança aquela velha máxima: “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.

O motivo do nosso enredo é educação, só que a gente resolveu falar dela pelo viés irreverente e crítico da FALTA de educação, de coisas que fazemos que comprometem o nosso dia-a-dia, a nossa convivência e o nosso futuro.

Quem nunca lançou a latinha de refrigerante pela janela do carro, avançou o sinal vermelho, dirigiu com aquela dose de cervejinha na ideia ou acima da velocidade permitida?

Do preguiçoso que entra na via sem ligar a seta e do apressadinho que pensa que buzina é almofada até a madame ou executivo de carrão que dá “conferência” pelo celular (e não “tá nem aí” que o sinal abriu), é deseducada a vida no trânsito, camarada! Haja direção defensiva!

Nas vias das redes sociais, meio capaz de unir as pessoas aos quatro cantos do mundo, quem nunca largou o pé do freio e destilou (ou sofreu) uma indireta, um “piti”? Quem nunca testemunhou, pelo menos, xingamentos e toda sorte de discriminação (racismo, homofobia, assédio, bullying) através de postagens de quem quer impor a própria opinião e se vale do mundo movediço dos perfis virtuais? E na corrida por likes, têm aqueles que reproduzem qualquer coisa que chame a atenção, nem se dando ao trabalho de ler e de checar a informação.

No país do carnaval, de mais de duzentos milhões de carnavalescos, quem nunca saiu detonando um enredo nas redes de “amigos” sem mesmo ler a sua sinopse ou aguardar o seu desenvolvimento na Avenida?

Ainda sobre o uso das novas tecnologias, quem nunca falou alto ao celular dentro do ônibus, do trem ou da van lotada? Cá entre nós, hein, ninguém merece saber que o passageiro ao lado saiu com a mulher do vizinho noite passada ou ter que acompanhar o vídeo do “sem noção” sem fone de ouvido, não é mesmo? E haja capacidade de armazenamento do celular pra suportar tantas “fofurices” e correntinhas diárias a nos desejarem bom dia, boa noite, boa semana, boa sexta, feliz sábado… Ufa! Esses novos “brinquedinhos” deviam vir com um manualzinho de ética, fala sério!

E quem nunca se livrou daquela inofensiva sacola de lixo no rio perto de casa? Aquela sacolinha plástica que você descarta e ela ainda leva anos e anos pra se decompor. De sacolinha em sacolinha os rios “enchem o saco”! E aí é sacolinha, sacolão, tampa de privada, sofá… enchentes, transbordarmentos, desabrigados, mortos. Uma avalanche de tristeza!

Mas nem tudo é desgraça já que nossas faltas também gostam de uma farra. Nas festividades e encontros populares (nos estádios de futebol, no reveillón, no carnaval…), “ninguém é de ninguém”, e na praça, na praia, na rua o que é público também parece não ser; consciência toma sumiço e juízo de multidão não tem dono: malandro sarra na moça em condução lotada, chafarizes de mijões regam a cidade, falso torcedor sai de casa pra brigar, monumentos são destruídos, fachadas sofrem pichações que distorcem a beleza da cidade e comprometem a arte do povo grafiteiro.

A conta vem depois, quando a gente descobre que o que é público é nosso e é a gente que paga. Na pátria do carnaval e das chuteiras, o futebol nos traz imagens pertinentes: bola murcha, gol contra, impedimento… Ah, e um cartão vermelho para as faltas daqueles que se escondem na multidão.

Como se vê, no trânsito, nas redes virtuais, no meio ambiente, nos encontros das massas etc e tal, estamos meio mal.

… #SóQueNão.

Nossa conduta não é de todo ruim. Afinal, somos seres inteligentes, sempre capazes de aprender. A última parte do nosso enredo é uma ode às maravilhas que o Conhecimento é capaz de edificar, aos monumentos que são o respeito ao outro e aos códigos coletivos, à convivência harmoniosa de contrários, à ética, à preservação ambiental, à construção de novas realidades por meio do estudo, da leitura, da pesquisa e da inovação.

Albert Einstein, o grande físico, já dizia que “a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” É assim que o tema da Educação nos inspira e se funde à ESCOLA de Samba G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio (com seu saber cultural, afetivo, informal e ancestral, de “tias”, “tios”, “pais” e “mães”, professores nossos do dia-a-dia), deixando um rastro positivo à comunidade de Caxias e aos Pimpolhos da Grande Rio, futuro da arte do samba e da humanidade.

E quem nunca fez uma faxina profunda, animada por aquela batucada estridente que enlouquece a vizinhança? O final do nosso desfile reserva uma “limpeza” geral, “enxaguando” nossos maus hábitos, removendo metafórica e alegremente as “crostas” que nos impedem a uma evolução “nota 10”. Afinal, entendemos que uma das grandes potências do carnaval é a possibilidade de aprendizado através da alegria, do movimento e do encontro dos corpos e da criatividade das mentes – sentido pedagógico este que congrega as diferenças e revitaliza o Ser.

O momento simbólico de aprendizado do nosso enredo não é, evidentemente, a imagem da “lavagem cerebral”, que fomenta a solidão da ignorância, o desmazelo com o meio ambiente, o fundamentalismo de ideias ou qualquer tipo de polarização norteada pelas faltas de gentileza, empatia e compreensão, mas uma purificação que expande a consciência, dá-lhe Saber, lava a alma e eleva o Espírito.

(Antes de terminar, vale lembar: “educação” vem do latim “educare”, que deriva de EX (que significa “fora”), junto a DUCERE (“guiar, instruir, conduzir”). Portanto, educar-se é conduzir-se para fora, sair do isolamento de si e dos próprios (maus) hábitos, ou, se quisermos, é superar os limites de nossa “caverna” escura, alegoria platônica).

Ainda temos jeito – aquele “jeitinho” que brasileiro adora e que também pode ser para o bem. Podemos aprimorar o indivíduo e as relações coletivas e ainda tentar deixar o Planeta da forma como o recebemos: maravilhoso, abundante, generoso e cuidadosamente pensado para nos “darmos bem” por aqui, sobre a Bola!

Refinar a mente, os hábitos e a vida para que sigamos em frente, com harmonia, na linguagem, na comunicação, no dia-a-dia é passo essencial para um final de Enredo feliz, alegre e pleno, aqui e no futuro, que pertencerá aos Bem Educados.
Proposição/Argumento: Renato Lage e Márcia Lage

Texto/Desenvolvimento: Izak Dahora

* Texto divulgado à Imprensa


 
"Xangô!"
SINOPSE


“Abram alas ao homem que nasce do poder e morre em nome do poder. Apodera-se do trono de seu irmão para se tornar o verdadeiro líder de uma nação. Sàngó, Rei absoluto, forte, imbatível, Aláàfìn Òyó, o Homem do Palácio; o grande Obá, o grande Rei.

Batam cabeça pro orixá dos raios, trovões e do fogo. “Senhor do Raio” ou “Senhor das Almas”. Viril e atrevido, violento e justiceiro; implacável com os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Xangô é a representação máxima do poder de Olorum. O desafio é feito sempre para confirmar seu poder. O seu machado duplo, seu Oxé, é o símbolo da imparcialidade. É uma divindade da vida, representado pelo fogo ardente e por essa razão não tem afinidade com a morte e nem com os outros orixás que se ligam à morte.

Sàngó, Ioruba Orisà; Nzazi / Loango, Bantu Nkisi; Xangô, Ketu Orixá; Heviossô, Jeje Vodum; Chango / Jebioso, Santeria Cubana; Ogoun Shango , Vodou Haiti.

É a realeza nas vestes e a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. Usa o vermelho da nobreza e – se grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho – Xangô pisa sobre o fogo.

Três esposas: Oya, que divide o domínio sobre o fogo. Oxum, a mais amada. E Oba, que por amor ao seu rei, foi capaz do seu próprio corpo mutilar.

Chega ao Brasil por seus devotados filhos. É cultuado como religião. No Nordeste, influenciado por Daomé, é denominado também de Xangô, em virtude da popularidade e importância da entidade nessa região. A raiz é do Sitio de Pai Adão. É o Xangô de Pernambuco, Xangô do Recife, Xangô do Nordeste e Nagô Egbá.

Sincretizado: das Pedreiras à São Jerônimo, que amansa o leão e que tem o poder da escrita e escreve na pedra suas leis e seus julgamentos. Na cachoeira, com São João Batista, por causa do batismo de Jesus, de lavar a cabeça na água doce para se purificar. Com o poder do fogo, queima, destruindo tudo o que é de ruim e ocorre a transmutação, trazendo tudo o que é de bom, todo o bem possível, de acordo com o nosso merecimento. Isso é o que pedimos nas fogueiras do mês de junho.

São Judas Tadeu, por ter um livro na mão ligado a trabalhos e pedidos de estudos. São Miguel Arcanjo é guerreiro, não das guerras sem propósito, mas, da guerra de cada um contra seu próprio “demônio”. Miguel desce dos céus com o vermelho em suas roupas, em sua árdua batalha contra o mal, quase sempre apontando de cima para baixo seu golpe. A autoridade máxima de São Pedro, a pedra. O primeiro papa, que tem as chaves da igreja e do céu.

Hoje os meus olhos estão brilhando, minha querida Bahia, terra abençoada pelos deuses. Felicidade também mora no Salgueiro. Naquela manhã de 1969, o saudoso professor, na escola tijucana, se incorporou pela primeira vez, ao se trajar como o orixá. E daí à eternidade, consagrado como o Xangô do Salgueiro.

Senhor do que é justo e correto, como o respeito à igualdade de todos. Se a justiça dos homens tem olhos vendados, onde “todos seriam iguais perante a lei”. Os de Xangô estão sempre bem abertos. Apelamos ao supremo tribunal, com seus doze Obás- Ministros de Xangô do Axé Opó Afonjá. Todos serão julgados sem privilegios! Presidido pelo Grande Juiz, que bate o martelo e dá seu veredicto: Chega de impunidade! Seus filhos pedem justiça. Cumpra-se!

Xangô é nosso pai é nosso Rei! Kawó Kabiesilé!

Carnavalesco: Alex de Souza

*Texto divulgado à Imprensa




 


“Quem não viu, vai ver… as fábulas do Beija-Flor”
SINOPSE


INTRODUÇÃO

No dia de Natal, à luz do Criador Deus Menino, sete décadas atrás, nasceu faceiro Beija-Flor, criado com muito amor; dádiva de quem já estreou abençoado na manjedoura nilopolitana, esmeralda reluzente riscando o céu no infinito.

Conduzindo essa viagem fascinante, voando de flor em flor nos Jardins da Folia, disseminou o pólen da informação e o grão do entretenimento, semeando Cultura Popular; bailando e rodopiando pelos ares, até na floração do Carnaval nova flor ver desabrochar.

Fez da História milenar alimento, cruzou céus e mares, igarapés e mananciais. Promoveu o encontro entre tambores e tribos, lendas e mitos; e viu despontar costumes, peculiaridades e tradições. Escreveu páginas de ouro da poesia brasileira ao revisitar nossas raízes, e nos fez mais felizes ao cantar a exuberante beleza das riquezas áureas do Brasil de Norte à Sul, em tons de branco e azul.

Viajou pelo mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-Anu, pelo paraíso hospitaleiro de onde se avista o sol primeiro, da Terra Santa – verde paraíso do povo da floresta e seu canto de fé pela missão de preservar, embebido de força, mistério e magia – para as terras dos Pampas, onde sete povos, na fé e na dor, ergueram sete missões de amor, em meio à liberdade dos campos e aldeias.

Viu brilhar o seu valor a iluminar o estado de amor de uma Comunidade que impõe respeito, e cheia de orgulho, bate no peito. Retirou o chapéu de bamba para anunciar Brasília, a capital da esperança, inspirada na arte e nos traços do mestre da arquitetura; e declamou ainda, o poema encantado da terra do bumba-meu-boi, da encantaria e das palmeiras onde canta o sabiá.

Resgatou as nossas origens e a nossa herança africana, legado dos nossos ancestrais. Testemunhou a criação do mundo na tradição Nagô e às Pretas-Velhas… quanto amor! Cantando em louvor à grande constelação das estrelas negras e todo o seu esplendor.

Ao abordar a importância da negritude, rompeu fronteiras e conheceu o berço de diferentes civilizações. Do Egito à liberdade, esclareceu que negros escravos viveram em grande aflição, foram o braço forte da nação; saga de quem vai seguindo o seu destino…

Enfim reencontrou as Áfricas de lutas e de glórias – do baobá da vida de Ilê Ifé à irmandade do conto do griô, negro na raça, no sangue e na cor.

Narrador-personagem a desvendar mistérios trajados de fantasias, consagrou-se ave Soberana, desfilando a exaltar a Corte de reis e rainhas no cortejo dos plebeus, composto por mestiços, índios, negros e europeus.

Homenagens que passeiam pela exaltação à José de Alencar, ao bom Natal – saudado pela Majestade, o Samba; pela coroação da Dama das Bromélias Margareth Mee, que fez a festa na Sapucaí, e pelo canto de cristal da diva internacional Bidu Sayão, que sacudiu a Passarela.

Comoveu ao botar pra fora a felicidade de reverenciar a simplicidade, momentos lindos que fizeram do Samba, oração. Sonhou o sonho do sonhador ao viajar nos feitos do astro iluminado da televisão, e na genialidade do Marquês que batizou a Avenida, palco das mais esplêndidas atrações.

Audacioso pássaro pequenino se fez gigante, ao propor reflexão social, ao soltar o grito de liberdade, o clamor por igualdade. A utopia de um Brasil livre da ganância nociva que há por baixo dos panos, ninho de famintas serpentes, onde ratos e urubus, trepados no cangote do povo, fingem não entender que todo mundo nasceu nu, e que saco vazio não pára em pé. Santuário de ambição que vitimiza brava gente sofrida, cansada de ganhar tão pouco, que vive no sufoco e precisa desabafar: seus filhos já não aguentam mais! Monstro é quem não sabe amar!

Foi o nosso DNA precursor e revolucionário, de quem tem sede de vitória, que permitiu que chegássemos até aqui, conquistando 14 estrelas, revelando o sorriso alegre do sambista, e sendo aclamada o festival de prata em plena pista.

A possibilidade de fazer uma releitura de desfiles memoráveis, alguns considerados mesmo antológicos, é um afago para a nossa gente humilde, que defende o nosso manto sagrado, na alegria ou na dor. Enamorada do nosso país, Nilópolis é nossa raiz!

Hoje, a nossa declaração de respeito, reverência e devoção ao Pavilhão virou fabuloso enredo sobre nossa septuagenária Agremiação; hino a ser defendido e entoado pelo canto inebriante de uma Comunidade fascinante.Quem Não Viu, Vai Ver, as Fábulas do Beija-Flor!

Que o ímpeto de voar seja o nosso segredo para acreditar, que o palpite, é certo!


Justificativa

A proposta do Carnaval 2019 da Beija-Flor de Nilópolis é uma celebração aos seus 70 anos de história, resgatando a memória do Pavilhão através de uma releitura contemporânea e fabulosa dos enredos mais marcantes da Agremiação.

Quem Não Viu, Vai Ver, e quem viu, vai novamente poder se emocionar com As Fábulas do Beija-Flor, uma coletânea das aventuras conduzidas pelo voo do Beija-Flor, animal símbolo da Escola, e o narrador-personagem dos enredos.

O embasamento e a argumentação deste projeto carnavalesco perpassam pela definição do conceito de fábula, pela relevância histórica e pedagógica do escravo grego Esopo, e pela missão do Carnaval enquanto espetáculo e manifestação cultural.

As fábulas são narrativas de fatos, imaginários ou não; fabulações cujas personagens são animais (e ainda plantas e seres inanimados) que agem como seres humanos, apresentam características humanas,  tais como a fala e os costumes, e têm como objetivo promover reflexão e propiciar  ensinamentos através da moral da história.

A inspiração na obra milenar de Esopo baseia-se em uma identificação imediata, pois do mesmo modo que os preceitos morais deixados como legado por este  visionário permanecem atuais e atemporais, a Beija-Flor de Nilópolis sempre revelou-se uma Escola pioneira, à frente de seu tempo.

Da mesma forma que as narrativas de Esopo se tornaram famosas ao longo da História da humanidade, os carnavais da Beija-Flor inspiraram e incitaram importantes reflexões na nossa sociedade, ambos embebidos de arte em um universo de magia e fantasia; e tanto as fábulas quanto o Carnaval são elementos populares. Sendo que o Carnaval, enquanto a mais genuína expressão da nossa identidade, também apresenta, através dos desfiles das Escolas de Samba, temáticas fictícias que têm por finalidade disseminar informação, conhecimento, cultura e entretenimento, cantadas em verso e prosa – tal qual as fábulas – através do samba-enredo.


Sinopse

Uma lágrima sentida caiu dos olhos da Vovó, lembrando imagens de crianças e do velho tempo que passou. Olhem o céu que maravilha! Retalhos de nuvens, bordados de estrelas… Iluminada pelo sol da meia-noite, a natureza vem mostrar sua beleza.

Pela porta da imaginação, galopando em cavalos alados, chegamos ao País das Maravilhas. Recebidos por soldadinhos de chumbo, entramos na floresta onde os animais falam e as plantas cantam; tudo neste mundo é encantado!

Com o despontar da primavera, tirem do passado a nobreza, e do futuro, a magia da surpresa! Criem a mais linda fantasia, delirem no universo fantástico deste canto de emoção!

Não chore não Vovó, não chore não! Veja quanta alegria dentro da recordação! Hoje, novamente sou livre, sou criança Beija-Flor; nessa bela fantasia, brindando à vitória do amor!

Pousarei nos luxuriantes Jardins das Delícias onde repousa o gigante em berço esplêndido. Celebrarei os donos da terra, sua cultura, suas lendas e seus rituais mágicos. Lavarei a alma e matarei a sede nas águas do rio mar, acompanhado de Caruanas e Amazonas à luz do luar. Ensinarei a dádiva da preservação das nossas riquezas, que estão abaixo e acima do solo; e revisitarei diversos cantos e recantos desse torrão miscigenado. Ouvirei ainda poemas encantados de amor; renascendo nas águas de um paraíso hospitaleiro de onde se avista o sol primeiro. Me tornarei candango e calango na capital da esperança e, traçando o destino ainda criança, me transfigurarei em brilho de fogo sob o sol do novo dia.

Iluminado feito um festival de prata, subirei ao Orum sagrado dos Nagôs, e descortinarei a reluzente constelação das estrelas negras para resgatar as nossas diversas Áfricas: a de lá e as de cá. Guiarei um cortejo de reis, rainhas e guerreiros negros, aqueles que romperam grilhões e carregaram nos ombros, marcados pelas chibatas, a opulência do nosso país, mas que sempre ficaram esquecidos nas savanas da memória oficial. Então, lembrarei que o mundo deve o perdão aos filhos de ébano, àqueles que sangrando pela História, foram tratados como mercadoria pela cruel ganância da escravidão.

Recordarei a grandiosidade da nossa cultura, múltipla, diversificada. Sonharei com rei e acertarei no leão. Ouvirei novamente aquela inesquecível voz de cristal encantando corações; me emocionarei com a sensibilidade da Dama das Bromélias; reviverei um tempo que passou, uma lembrança que ficou, para encontrar, lá no Cachoeiro, o Rei ainda menino e; finalmente, quando o amor invadir as almas e a magia trouxer  inspiração, triunfará uma canção para embalar os corações.

Porém, entristecido, constatarei que não somos o Brasil das maravilhas. Verei que os trabalhadores mais humildes continuam carregando o peso descomunal dos impostos, enquanto os “donos do poder” se esbaldam em farras bancadas com dinheiro público. Serei mais uma vez o porta-voz dos excluídos contra as mazelas que corroem as nossas riquezas, por que faz parte da minha missão.

Retirarei das imensas lixeiras desse país, restos de luxo, convocando o povo para um grande Bal Masqué. Fazendo, da própria angústia, um grito de desabafo: ratos e urubus, larguem nossas fantasias! Chega de ganhar tão pouco, chega de sufoco e de covardia! Parem com essa ganância, pois a tolerância pode se acabar um dia! Oh! Pátria amada, por onde andarás? Seus filhos já não aguentam mais!

É bem verdade, Vovó, que de lá pra cá, tudo se transformou. Mas a vitória da folia ficou no encanto do meu povo, que brinca sambando quando samba a Beija-Flor!


Comissão de Carnaval: Victor Santos, Bianca Behrends, Rodrigo Pacheco, Léo Mídia, Cid Carvalho e Válber Frutuoso

*Texto divulgado à Imprensa




 



"Me dá um dinheiro aí!"
JUSTIFICATIVA 


A ideia básica deste desfile, que abrange alguns assuntos mais graves, é tratá-los através de metáforas ou de forma sempre bem-humorada, que aliás, faz parte de uma tradição do humor brasileiro.

O fato é que os dramas existem e estão aí plantados e, por uma hora e quinze minutos, esperamos proporcionar ao público um espetáculo leve e divertido, apesar das mazelas.

Finalizando, uma frase do cartunista Jaguar que sintetiza o nosso conceito: “está tudo tão sinistro que é preciso rir para poder respirar”.


SINOPSE


O nosso Enredo vai falar sobre o dinheiro e sua relação com o ser humano desde a sua invenção até a época atual. Ele é, sem dúvida alguma, um dos instrumentos de maior importância na vida econômica das nações e das pessoas. Para se certificar disso, bastará imaginar o que seria a vida sem dinheiro. Como poderíamos comprar e vender, receber e pagar, abastecermo-nos e economizar para o futuro, etc., se ele não existisse?

Nosso desfile começa contando duas lendas clássicas que lançam uma luz sobre a justiça e a ganância humana pelo dinheiro.

A primeira fala de Robin Hood, herói mítico inglês (séc. XII), que roubava da nobreza, que vivia da exploração do povo através de impostos e taxas extorsivas e distribuía para os pobres.

A segunda lenda conta a história do Rei Midas, que recebeu dos deuses a capacidade de transformar em ouro tudo que tocasse. A dádiva virou maldição. Até mesmo sua filha predileta foi transformada por ele em ouro.

Em seguida vamos viajar até o século VII a.C., no Reino da Lidia (Turquia atual), onde foram criadas as primeiras moedas. Depois da moeda veio o papel. Os chineses foram os primeiros a perceber a vantagem de lidar com o dinheiro na forma de documentos de papel no século X.

Em se tratando de Brasil, começamos narrando a primeira relação de troca entre os índios e descobridores em 1500: o escambo.

Somente quase dois séculos depois foi criada a Casa da Moeda da Bahia, marco da produção das primeiras moedas brasileiras, grandemente utilizadas na compra de escravos. Um capítulo hediondo de nossa história que durou quase 3 séculos.

Com a República e o progresso vieram inúmeros meios de guardar e investir dinheiro: depósitos bancários, aplicações financeiras e assim por diante. Também veio a divisão da sociedade em classes, denunciando uma enorme desigualdade de renda: poucos com muito e muitos com tão pouco.\

A chance de ascender a uma classe superior, com raríssimas exceções, é muito limitada. Como por exemplo, de forma ilícita ou por um golpe de sorte, através de um prêmio acumulado na Loteria – a roda da fortuna. Também abordamos o lado popular e bem-humorado do dinheiro com o personagem do Tio Patinhas e o cofre do porquinho.

Encerramos o desfile falando de um futuro já presente através das moedas criptográficas – um sistema de recurso digital projetado para funcionar como um meio de troca. A partir de 2010, algumas empresas em escala global começaram a aceitar Bitcoins.

E o carnaval do futuro? Desfiles intergalácticos?
Imperatriz flutuando no espaço sideral?
Aguardemos…


SETORIZAÇÃO

SETOR 1 – AS LENDAS

Abrimos o nosso desfile representando 2 lendas importantes que se referem diretamente ao dinheiro: Robin Hood e A Lenda de Midas.

SETOR 2 – A INVENÇÃO DO DINHEIRO

As mais antigas moedas que se conhecem foram feitas no séc. VII no Reino da Lidia (Turquia atual). Feitas de liga de ouro e prata, conhecida na época como “eletro”.

Cédulas não passam de pedaços de papel, mas são aceitas como dinheiro. O valor está no que elas representam. Os chineses foram os primeiros a lidar com o dinheiro na forma de documentos de papel.

SETOR 3 – TERRA BRA$ILI$. O DINHEIRO DO BRASIL

A história do dinheiro no Brasil começou de forma insólita logo após o descobrimento, com um fato importante para o meio circulante brasileiro: o primeiro escambo. Ao desembarcar em terra, os portugueses, num gesto amistoso, lançaram à praia um barrete vermelho, uma carapuça e um sombreiro. Os índios, imediatamente, responderam lançando um cocar de penas e um cocar de contas.

Nos períodos colonial e imperial até 1888, a economia brasileira sobrevivia através da exploração dos escravos trazidos da África e vendidos como mercadoria. Um dos  períodos mais hediondos da nossa história.

SETOR 4 – TEMPOS MODERNOS

Hoje temos à disposição inúmeros meios de guardar e investir dinheiro: depósitos bancários, aplicações financeiras, cheques, cartões de crédito, caixas automáticos, previdência privada e etc.

SETOR 5 – A RODA DA FORTUNA

A roda da fortuna vai falar sobre pessoas de origem humilde que através do talento pessoal ou da sorte conseguiram crescer na vida com sucesso financeiro.

SETOR 6 – O FOLCLORE E O DINHEIRO

Neste setor abordaremos o Tio Patinhas, o cofre do porquinho e também o dinheiro na teleficção.

SETOR 7 – DINHEIRO E CARNAVAL DO FUTURO

Em relação ao dinheiro podemos anunciar que o futuro já começou através das moedas virtuais. A mais famosa delas é o Bitcoin.

E completando esse futuro “virtual” e intergaláctico imaginamos a Imperatriz do futuro.

Carnavalesco: Mário Monteiro e Kaká Monteiro

*Texto divulgado à imprensa



 


“Cada macaco no seu galho.
Ó, meu Pai,me dê o pão que eu não morro de fome!”

SINOPSE


Através dos “olhos” do pavão, animal que traz a visão de Deus pela alma e elimina o mal com suas garras, a Unidos da Tijuca vai passar uma mensagem de esperança em dias melhores por meio da história e simbologia do pão. Assim como no pavilhão tijucano, o pavão guiará a escola a revelar a trajetória do alimento mais popular do planeta. Em tempos de ódio gratuito, intolerância para todos os lados, e do politicamente correto, o enredo se utiliza de um ditado popular para sinalizar que, se cada um fizer a sua parte, o mundo há de ser mais justo. A agremiação frisa aqui que a expressão “cada macaco no seu galho” utilizada no tema nem de longe lembra o significado primitivo do termo, que era usado para discriminar a população negra. Dentro do contexto do desfile da Tijuca, o ditado assume o sentido irreverente característico dos cariocas. Ou seja, é “cada um no seu quadrado” em busca de uma sociedade melhor.

Essência de todas as escolas de samba, os negros foram (e são) o pilar desta festa. Portanto, seria contraditório denegrir quem fez e faz pelo maior espetáculo da Terra.

O título do enredo ainda traz uma frase de clamor pelo pão que alimenta, seja o corpo ou a alma. Desde a sua descoberta, ele vem curando as necessidades de muitos, fortalecendo a construção de sociedades. O pão é o fio condutor que nos levará até os dias atuais.

Afinal, de acordo com o historiador alemão Heinrich Eduard Jacob, “nenhum outro produto, antes ou depois da sua descoberta, dominou o mundo antigo, material e espiritualmente, como o pão foi capaz de fazer”.

Desenvolvimento

Através dos “olhos do Criador”, revejo o surgimento do alimento mais importante e sagrado do mundo. Na Mesopotâmia, um dos berços da civilização, o homem primitivo percebe que a simples exposição ao sol de um punhado de cereal, batizado como trigo, faz nascer uma massa intrigante. A “descoberta” dali para frente alimentaria a humanidade.

Foram os egípcios que, com inteligência e sagacidade, iniciaram o processo de fermentação dessa massa, dando origem ao Pão. Ele rapidamente ganhou traços simbólicos, seja como moeda de troca ou instrumento político.

Do pão, foi mantido um Império. Reis e rainhas caíram. Revoltas e revoluções surgiram.

O povo explorado, muitas vezes escravizado, sempre trabalhou pelo alimento de cada dia. O humilde proletário, que madruga atrás de condução, também está em busca de uma vida melhor. E é na fé que esse homem se sustenta. Fé encontrada no filho de Deus, que se fez carne entre os pecadores. O Cordeiro de Deus deixou-nos o exemplo da multiplicação e partilha do amor com os irmãos.

Assim como Jesus Cristo, outras santidades dão verdadeiras lições de que, se cada um fizer a sua parte, mesmo que pequena, fabricaremos, amassaremos a mistura, que ao crescer, salvará nosso mundo da fome de alimento, e de sentimentos.

Até porque vivemos em uma realidade tão cruel, em que muitos ainda não têm acesso ao básico para viver. Os abusos de poder massacram os desfavorecidos. Estamos no forno, assando, sofrendo, queimando no descaso de quem deveria olhar pela prosperidade de todos.

Ah se todos fizessem a sua parte…

Se os ardilosos com seu egoísmo e ambição fossem extintos…

O ditado popular “Cada macaco no seu galho” nunca foi tão essencial como agora. Não no seu significado primitivo, que era usado para discriminar a população negra – povo que é a essência das nossas escolas de samba. Se cada um dentro do seu ofício fizer o melhor, teremos o nosso pão e não morreremos de fome.

É preciso colocarmos no coração verdadeiramente a mensagem do Pão da Vida para podermos viver nas glórias de um Paraíso Real.

Enquanto não desfrutamos desta abundância, sei que tudo poderá me faltar: água, pão… Mas nada tirará o meu ânimo de viver. Nada! Porque sei que nunca me faltará o teu amor, Pai. Amor que gerará filhos, nascidos sem dor. Filhos que crescerão como homens de bem, direitos. Direitos que serão ensinados para vivermos em um mundo melhor.

Ouço o teu clamor, por isso, cubro-te de amor e fé pois este é o verdadeiro alimento da sua alma.


Unidos pela arte e cultura popular

Coordenação geral: Laíla
Diretor de carnaval: Fernando Costa
Carnavalescos: Annik Salmon, Fran Sérgio, Hélcio Paim e Marcus PauloDesenvolvimento: Annik Salmon, Fernando Costa, Fran Sérgio, Hélcio Paim, Igor Ricardo, Laíla, Marcus PauloPesquisa e texto: Igor Ricardo 

Agradecimento

Obrigado, meu Deus, obrigado por mais esse dia.
Obrigado pela minha família, pela oportunidade de mais uma vez
te encontrar de braços abertos para carregar em teu colo os meus desejos, as minhas dores, os meus desafios.
Obrigado, meu Deus, por iluminar meu caminho, protegei minha casa, minha mulher, protegei meus filhos.
Cubra-me de amor e fé porque esse é o verdadeiro alimento da minha alma.
Iluminai a cabeça daqueles que vivem na escuridão, consolai aqueles que tanto precisam do teu amor.
Proteja aquele que vai em busca do pão de cada dia,
mas sobretudo cubra de graças aquele que se levanta para ir em busca de um emprego.
Que o clarão do dia que está para chegar, traga o sol da tua bondade e aqueça o nosso coração.
Sei, meu Deus, que pode me faltar a água, o pão, um teto, um abraço,
mas sei que nada disso é tão importante que me tire o ânimo e a alegria de viver.
Sei que nesta vida tudo poderá me faltar.
O que nunca me faltará é o Teu Amor, Pai.


*Texto divulgado à Imprensa



 

“E o Samba Sambou...”

SINOPSE

No jogo do amor e do samba não tem regras: ou se tem, depende. Cartas na mesa, mesa virada. E o amor ao samba? Ah, camarada… Tudo tem seu preço e seu apreço. Quem tem padrinho não morre pagão! O brado retumbante de 90 ecoou com tanta força que se fez profecia: E o Samba Sambou…

Da mesma forma que disse em 90, não sou dono da verdade. Também cometi meus pecados. A mesa virada tem lá minha digital. Assumida. Mas peixe pequeno frita mais rápido que peixe graúdo. Tá dado meu recado. Porém, jocoso que sou, faço piada de mim mesmo. Aliás, tenho isso correndo nas veias: meu DNA foi construído apontando o dedo em riste e sambando na cara da sociedade. Meu histórico me credencia. Basta olhar meu manancial.

Esse de 90 tem um molho especial. Nunca antes na história dessa república se fez tão necessário reviver esse discurso. O planeta samba virou de ponta cabeça, inverteu a ordem, subverteu a lógica. Infelizmente, tudo que foi dito, de fato aconteceu (quiçá piorou!). E não tem jeito, tá na minha raiz primeira. No meio desse turbilhão, eu não podia faltar ao enfrentamento. Já que o recado não foi ouvido da outra vez, vamos novamente ser “fieis” à nossa conduta e largar o chumbo grosso!

Luz, câmera, negociação: tá no ar mais um espetáculo na tela. É fantástico! O sambista dá lugar a vedete da internet, que usa o GRES para ser manchete. Uma aparelhagem tecnológica digna de cinema ganha mais importância que o gingado generoso da mulata. Não tem jeito: virou Hollywood isso aqui. Mil artistas de verdade, que riscam o chão com sua herança, tem menos espaço na lente da câmera que atriz/apresentadora/promoter. Que sacanagem…

Já começa errado quando a autoridade não reconhece que no carnaval quem manda é Momo! Não entregar a chave a Sua Majestade é um pecado mortal pros súditos da folia. Na pista, ganha o interesse: nossos símbolos culturais são substituídos pelo estrangeirismo barato. E como tem gringo no samba! Camarada, você não imagina o poder de uma credencial: é tanto aspone na avenida que parece que tem duas escolas desfilando ao mesmo tempo. No ritmo do samba moderno, uma correria contra o relógio; um verdadeiro “coopersamba”! E o povão…? É, esse ficou de fora da jogada. Nem lugar na arquibancada ele tem mais pra ficar. A grana entope os camarotes de sertanejo, música eletrônica e de todo tipo de som, menos o próprio dono da festa: o samba. Que mico minha gente… Olha o que o dinheiro faz!

E por falar na grana, hoje a rainha paga pra sambar. Um verdadeiro dote de privilégios. Cadê as meninas da comunidade riscando o asfalto? Tudo tem seu preço e seu apreço camarada… elas fazem tudo para aparecer na tela da TV, no meio desse povo! E a mídia “toda poderosa” controla tudo a seu bel prazer. Até mesmo a opinião pode ser comprada! Como não? Até o samba é dirigido com sabor comercial. Tem que ser registrado, carimbado, protocolado no escritório: uma verdadeira exportadora de “bois-com-abóbora”.

E o samba vai se vendendo às vaidades, sendo usado como plataforma pra fulano, beltrano e quem mais quiser seus 15 minutos de fama. Que covardia… Carnavalescos e destaques vaidosos transformam a Sapucaí num verdadeiro ringue aos seus insaciáveis egos. E o samba vai perdendo a tradição…

Mas eu sempre avisei. Eu sempre falei. E você sabe disso: o boi voou e denunciou a roubalheira, a galhofa, a bandalheira. Era profecia de uma chacota nacional. Eu, pequenino, quase rodei esse ano, triste feito um cão sem dono. Mas como “quem casa quer casa”, tô apaixonado pelo lugar que conquistei. “Não adianta jogar água malandragem”, “eu mato a saúva antes dela me matar”.

Temos que cuidar do samba. Segurar essa mesa no lugar. Caso contrário, nem povão na arquibancada vamos ter mais pra nos aguardar, afinal “Quem avisa amigo é”. Temos que segurar firme essa onda. Pelo amor que temos ao samba, vamos preservar esse “antigo reduto de bambas”, para que as gerações futuras possam ainda curtir o verdadeiro samba.”

Carnavalesco: Jorge Silveira


* Texto divulgado à Imprensa



 

“Em nome do pai, do filho e dos santos
- a Vila canta a cidade de Pedro”
SINOPSE

Quem pensa que é feliz em outra terra
é porque ainda não viveu aqui.
(Hino de Petrópolis)


Que rufem os bumbos! No repicar dos tamborins, pede passagem a Branco e Azul cuja força provém do samba, eterna nossa tradição! É a comunidade que vem resgatar o império da Coroa do nosso pavilhão, herança da Isabel princesa, marca da nossa história gloriosa de emoção! Bate forte a bateria para marcar o tempo, o tempo novo da majestade Vila Isabel, o tempo de exaltar a nossa Coroa, na festa do povo, celebrando os corações do bairro de Noel, encontrando-se com outra Coroa, a da Casa Real, destinada a criar uma Cidade Imperial.

Vibra uma Vila que se reencontra com as origens, com a sua negritude, com a sua raça! São através dos pés aguerridos das negras e negros que sambam e honram a história que vem a Vila louvar os louros de sonhos de outrora e dos de agora, mostrando a toda essa gente que samba de verdade é tradição do nosso sangue rubro e, em um gingado incomparável, quente. “Sou da Vila não tem jeito; comigo eu quero respeito!”.

Portanto, encantem-se com a história que vamos contar, pois ela começa com Pedros, dos céus à terra, para criar uma cidade em uma serra.

O Santo. São Pedro que, desde o primeiro desfile da Branco e Azul, costuma lavar nossa alma e lustrar com seu sagrado encanto a Coroa da Escola, símbolo da força da gente que dá o sangue na avenida. O Santo que deu nome a tantos outros santos e homens!

O Padroeiro do Brasil e da futura cidade. Santo Pedro de Alcântara, em adoração ao Altíssimo, homônimo do primeiro e inspiração para nomear os senhores do Reino.

O Pai Pedro de Alcântara, Rei Soldado Dom Pedro I, quem sonhou com a cidade no alto.

E o Filho Pedro de Alcântara, Magnânimo Dom Pedro II, que realizou o legado.

E são os batuques da Vila que contarão a estória, com o fervor da seiva das suas raízes. Em nome do Pai, do Filho e dos Santos, vem a Vila celebrar a Cidade de Pedro e sua glória.

Lá, onde o céu toca a terra, acharam o crepúsculo de um mundo habitado pelos astros e seus donos: na Serra da Estrela, seus reis, os Índios Coroados, e um paredão, a ponte com o firmamento que transformava o fogo em relento. Lá, os mistérios atraíam os olhares castigados do calor que nem o mar aliviava, e as bocas secas que encontrariam as águas cristalinas que talhavam a dura rocha, a água pura dos mistérios da Estrela Serra.

Avançando os anos, a ocupação lenta de uma serra a ser desbravada e, enfim, trilhas para as Minas, ouro para a Casa. Depois que a Coroa se instalou, subindo as tais trilhas tortuosas, outros caminhos pelos arcanos da serra passaram a encantar o Império à beira-mar. Partiu então o Pai para viajar e, lá, ao pernoitar, ao esquecer o sol inclemente, sonhou com ares mais amenos para corpos ainda não acostumados com o calor da vida que fervilha cá embaixo, ardente. Veio, após o peregrinar da carruagem, o sonho – uma cidade nunca vista nas terras quentes! Uma cidade que brilharia do cume daquela Estrela: do que esta, ainda mais imponente.

Mas quis a vida que o Filho realizasse o sonho-desejo. Pai morto, Filho imperador, e a Cidade de Pedro a ser erguida. Nos projetos, com o incentivo do mordomo e com o plano do major, foram idealizados, primeiro, um palácio e uma igreja para o Padroeiro: reinava a santidade da cidade a ser imperial, que começava a crescer, maravilhando os olhos acalorados do povo suado do litoral.

Nascia e vivia Petrópolis, com os exuberantes ares que, do alto, iluminaram todo um Império. Uma cidade moldada pelas mãos dos imigrantes, uma das primeiras planejadas. Destinada, pelos sonhos e vontades de Pai e Filho, a ser muito! Casa de Veraneio, um império no Império Brasileiro, uma Versalhes de refúgio abrasileirada, na verdade quase sempre ocupada – passou, o Filho, ali, quarenta verões, na cidade encantada. Para toda a gente da Corte, a vida embalada no colo de uma Estrela, onde Princesa Isabel, a filha Redentora, não se cansava de descansar para, mais tarde, ser a inspiração do nosso sambar, dando-nos a Coroa para embelezar a realeza do Escola de Noel, aqui perto do mar.

Mas Petrópolis encontrava-se com a história e com o tempo e, balançando no fiar do fado, um Barão iniciou o guino: estradas de ferro e novas rotas. O progresso! Com a pulsação dos avanços, o projeto de um trem a subir uma montanha! Nessa leva, outros gênios, e uma das estradas levou o nome do seu tino: União e Indústria, a primeira macadamizada, o futuro promissor. E além dos avanços, com o tempo que não para, o prenúncio de novas eras. Um baile de cristal que comungava e anunciava o futuro sem o terror da escravidão – dali a pouco, liberdade, e, após muita luta, abolição como canção!

Passou o Império, mas nunca a imperialidade. E, aguerrida, até uma capital Petrópolis se tornou quando, com a Armada, a então jovem República cambaleou. Brilhariam para sempre os palácios, mas, também, o triunfo de uma polis que progredia, soberana, namorando a abóboda celeste. Dos encantos de Petrópolis, convenções internacionais e um Brasil que se ampliava: veio o Acre, que passou a ser mais um aposento da nossa casa. Avançava e eis o novo símbolo da cidade: um Hotel-Cassino, de onde o mundo pôde admirar a Cidade Imperial na sua plenitude de norte a sul, de leste a oeste. Reina, ontem e hoje, a natural beleza das acolhedoras terras frias e das águas puras e límpidas, cujos encantos competiram apenas com os das musas que passaram pelos festivais, enchendo-nos de alegria!

Sempre em frente, caminha. Dobra-se o mundo que se encanta com sua real e avançada realidade. Luxo das vestimentas, delícias da cevada e frutífera imponência, pois, do passado ao presente, eis o Laboratório Nacional de Computação Científica: tecnologia e ciência. E futuro não lhe falta enquanto, daqui de baixo, a Vila lhe presta, enfim, esta respeitosa reverência.

Assim, São Pedro, que sempre abençoa nossa realeza e os tambores da Swingueira de Noel… E Santo Pedro de Alcântara, padroeiro do nosso chão e que não deixa na mão quem Lhe é fiel… Façam, através desta história, brilhar o ouro da tradição da Vila, da nossa negritude e da nossa Coroa Real, enquanto cantamos a plenos pulmões, admirados (e, com seus fantasmas, assustados!), outra Coroa, a de Petrópolis, a Cidade Imperial.

Carnavalesco: Edson Pereira
Autores: Edson Pereira, Clark Mangabeira e Victor Marques

*Texto divulgado à imprensa




 
“Na Madureira moderníssima,
hei sempre de ouvir cantar uma Sabiá”
SINOPSE


A Portela vai apresentar no carnaval de 2019 uma homenagem à cantora Clara Nunes, ressaltando a diversidade e a atualidade de sua trajetória biográfica e seu vasto e plural repertório musical, constituído de sambas-canção, sambas-enredo, partidos-altos, marchas-rancho, forrós, xotes, afoxés, repentes e canções de influência dos pontos de umbanda e do candomblé. Para isso, pretende sair do lugar-comum das narrativas sobre sua vida ou de uma colagem de títulos de sua discografia. Nossa escola exalta a importância cultural de Madureira, das festas, terreiros e do contagiante carnaval popular, enfatizando a contribuição do bairro para a formação da identidade que caracterizou Clara Nunes: a brasilidade.

O meu lugar,
tem seus mitos e seres de luz.
É bem perto de Oswaldo Cruz*


Em 1924, no primeiro carnaval da Portela, fundada em abril do ano anterior, o coreto de Madureira, criado pelo cenógrafo José Costa, reproduzia a imponente Torre Eiffel. Visitando o bairro na companhia de alguns amigos, Tarsila do Amaral não apenas eternizou aquela imagem numa tela, como também mostrou para seus pares modernistas que as festas populares do nosso subúrbio incorporavam os mais diversos elementos culturais. Sem dúvida, Madureira sempre teve um ar moderno, como a própria trajetória de Clara Nunes, que parece ter emergido de uma obra modernista, como se fosse uma tela da Tarsila: a Mineira representa a mais plural expressão da brasilidade. Morena. Mestiça.

Porque tem um sanfoneiro no canto da rua,
fazendo floreio pra gente dançar,
tem Zefa da Porcina fazendo renda
e o ronco do fole sem parar**
Clara nasceu no interior mineiro, num lugar que hoje se chama Caetanópolis. Ainda menina, trabalhou numa fábrica de tecidos para conseguir sobreviver, mas seu destino já estava traçado. Tinha como missão cantar o Brasil! Ao longo da infância, conheceu de perto as tradições culturais e as festas folclóricas interioranas, certamente recebendo influência de seu pai, Mané Serrador, mestre de canto de Folia de Reis e violeiro dos sertões das Gerais. Sua brasilidade, como herança de sua origem, sempre valorizou a diversidade regional de nosso país. A voz de Clara fez ecoar os ritmos do povo, na saborosa confusão dos mercados populares, seja do nordeste ou de qualquer outro recanto desta nação.

Alçando voos mais ousados, Clara mudou-se para Belo Horizonte, onde participou de concursos, realizou os primeiros trabalhos artísticos e conquistou espaço nos meios de comunicação. Chegando ao Rio de Janeiro, seguiu fazendo sucesso e conheceu o misticismo que aflorava em Madureira, incorporando-o à sua identidade.

Sou a Mineira Guerreira,
filha de Ogum com Iansã***
Até então, a artista cantava principalmente boleros e sambas-canções. Após ter contato com o ancestral universo afro-brasileiro de Madureira, a mineira se transformou igual ao céu quando muda de cor ao entardecer. E nunca mais foi a mesma: visitou os terreiros, quintais e morros de Oswaldo Cruz e Madureira, vestiu-se de branco, incorporou colares, turbantes e contas, cantou sambas e pontos de macumba. Seu repertório se expandiu. A imagem de Clara evocando os Orixás, irmanada ao povo de Santo, eternizou-se na memória de seus fãs. Ela se tornou a Guerreira que não temia quebrantos, dançando feliz pelas matas e bambuzais, sambando descalça nas areias da praia, unindo a essência negra de Angola ao subúrbio carioca. E assim, sua voz rapidamente se espalhou. Seu canto correu chão, cruzou o mar, foi levado pelo ar e alcançou as estrelas. Uma força da natureza que brilhou como um raio nos palcos e terreiros, iluminando o coração dos portelenses. Nada disso foi por acaso.

Portela, sobre a tua bandeira
esse divino manto.
Tua Águia altaneira
é o Espírito Santo
no templo do samba****
Desde que foi fundada, a Portela tem uma presença significativa de elementos típicos do mundo rural, trazidos pelo povo simples do interior, sobretudo do interior de Minas Gerais, mesclados à negritude que vibrava em Madureira. Talvez tenha sido por isso que a identificação de Clara com a Portela foi imediata. Ela sempre ocupou posição de destaque nos desfiles, é madrinha da Velha Guarda e até puxou sambas-enredos na avenida. Ela e os portelenses, famosos e anônimos, sempre caminharam de mãos entrelaçadas, voando nas asas da Águia. Um dia, inesperadamente ela partiu. Trinta e cinco anos se passaram desde então. A dor da saudade sempre reverberou no coração de todos, tornando-a uma estrela ainda mais cintilante. Agora está na hora de a Guerreira reencontrar seu povo mestiço, para mais uma vez brilhar na avenida. Vestida com o manto azul e branco e a Águia a lhe guiar, voa minha Sabiá.

Até um dia!

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* O Meu Lugar - Arlindo Cruz e Mauro Diniz
** Feira de Mangaio - Glorinha Gadelha e Sivuca
*** Guerreira - João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro
**** Portela na Avenida - Paulo Cesar Pinheiro e Mauro Duarte

Carnavalesca: Rosa Magalhães
Sinopse: Fábio Pavão e Rogério Rodrigues

*Texto divulgado à imprensa



 

“A peleja entre Rachel e Alencar
no avarandado do Céu”

JUSTIFICATIVA DO ENREDO


A União da Ilha do Governador partilha o desejo de levar para a Avenida em 2019 uma proposta lúdica e prazerosa que aproxima cultura popular e educação. Bordaremos com palavras, versos e memórias a celebração do encontro entre dois expoentes da literatura brasileira no enredo “A PELEJA POÉTICA ENTRE RACHEL E ALENCAR NO AVARANDADO DO CÉU”.

O Ceará está intimamente fincado no chão de Rachel e Alencar, lugar por onde andaram e de onde extraíram elementos essenciais para a construção de seus escritos. Pisaduras na história com prosa, crônicas e lirismo. Um emaranhado de conhecimentos e sabores, desde o litoral até o sertão.

As linhas que tramam seus livros revelam saberes passados de pai para filho e assombrações que povoam o imaginário popular dessa terra cercada de mar, mas com o chão emoldurado pela seca. Fé embalada em oração e festejada ao som da sanfona e do cordel.

A Ilha vai desfilar “causos” aninhados nas páginas amareladas pelo tempo. Cenas de uma terra ornada pelas várzeas da caatinga ou por imensas campinas que se dilatam por horizontes infindo.

Ceará vem de “cemo” que, nos ensina Alencar, significa “cantar forte, clamar”. A jandaia faz ecoar nosso canto rumo aos verdes mares e borda no azul do firmamento o matiz de um encontro inédito.

Em cada brincante, cores que pincelam os sonhos, com o sotaque próprio de um povo que luta pelo sorriso e pela felicidade. Alegria compartilhada
-- “Sou brasileiro, sou cabra da peste, sou do nordeste, sou do Ceará”.

SINOPSE

Setor 1- “O Baú do Imaginário Matuto”

Era uma vez o desejo de contar histórias. Histórias únicas, impregnadas de sorrisos e abraços. Histórias que trouxessem notícias do Brasil e sua gente. Esse universo múltiplo, de caras e figuras em constante movimento, passeia pelo sertão afora, percorre caminhos e lendas, conhece outros lugares, experimenta sabores diferentes, voa nas asas das palavras e, ao som do sanfoneiro, dança as cirandas da vida.

Assim foram surgindo as primeiras narrativas de uma peleja poética entre Rachel e Alencar. Personagens vivos numa folia colorida, contadas no avarandado do céu. Quem quiser escutar, que se aprochegue, se assim lhe agradar.

- Rachel, nobre escritora. Sensível como uma flor. Você ficará sabendo o peso de um escritor. Remexa todos os livros e conhecerá meu valor.

- Oh, ilustre menestrel, cujo nome é Alencar. Que às tradições é fiel e faz o baú do imaginário desabrochar, um universo de lendas, magia entre o homem e seu lugar.

- "Desenhavam-se a cada instante na tela das reminiscências, as paisagens do meu pátrio Ceará. Cenas estas que eu havia contemplado com olhos de menino dez anos antes, ao atravessar essas regiões em jornada e, coloriam-se ao vivo com as tintas frescas da palheta cearense." (JOSÉ DE ALENCAR, "O nosso cancioneiro")
-"Em frente, todos os novos caminhos para mim eram um mistério." (RACHEL DE QUEIROZ, "Memorial de Maria Moura")
Personagens lendários desviando caminhos para seguir em frente. Uma linda princesa (transformada numa serpente de escamas de ouro), esquecida em seu castelo com torres douradas, guardando joias, pedrarias, barras de prata e moeda aos montes para o herói audacioso que resolva lhe “quebrar” o encanto. Nas asas do vento criador, a esfinge de Quixadá e o velho Guajará passeiam, ao som do Urutaú, por trilhas nunca antes descobertas. Sons de tambores permeiam os contos do Dragão e o tesouro enterrado em Ipu.

- "O Urutaú no fundo da mata solta as suas notas graves e sonoras, que, reboando pelas longas crastas de verdura, vão ecoar ao longe como o toque lento e pausado do ângelus" (ALENCAR, ”O Guarani”)
- “Iam para o destino, que os chamara de tão longe, das terras secas e fulvas de Quixadá, e os trouxera entre a fome e mortes, e angústias infinitas, para os conduzir agora, por cima da água do mar, às terras longínquas onde sempre há farinha e sempre há inverno...” (RACHEL, "O Quinze")

- "Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu" (ALENCAR,”O Guarani”)
Setor 2- “As crônicas de fogo e gelo”

Terra de maturação, na qual o tempo engedra caldo e doçura. Fruto prazeroso do fazer coletivo: cultivar, plantar, colher. Sua comida congrega visitantes e reúne amigos. O perfume dos seus doces aproxima os vizinhos, evocando aromas e sabores, enchendo a boca de água e os olhos de sonhos.

- Rachel, doce menina, se entendes de comidas, do sertão não faça rolo. Eu gosto de macaxeira, pamonha de milho e bolo. Buchada, sarapatel, batida, alfenim e tijolo.

- Aprecio bolo mole, carne de sol, panelada. Rapadura, sarrabulho, caranguejo, farofada. Galinha à cabidela, baião-de-dois, cuscuz do norte e cocada.

- "Compunha-se esta de uma naca de carne de vento e alguns punhados de farinha, que trazia no alforje. De postres um pedaço de rapadura, regado com água da borracha." (ALENCAR - "O Sertanejo")
- "Só comparo o Nordeste à Terra Santa. Homens magros, tostados, ascéticos. A carne de bode, o queijo duro, a fruta de lavra seca, o grão cozido em água e sal. Um poço, uma lagoa é como um sol líquido, em torno do qual gravitam as plantas, os homens e os bichos." (RACHEL, "O Não me deixes: suas histórias e sua cozinha")
-"Os lenhadores voltavam do mato carregados de feixes, enquanto os companheiros conduziam à bolandeira cestos de mandioca, ainda da plantação do ano anterior, para a desmancharem em farinha durante o serão. "( ALENCAR - "O Sertanejo")
"Pegamos os fardos de pano, o sal que dura sem fim. E os sacos com os mantimentos dos comboieiros comerem em caminho: feijão, farinha, e meia manta de carne seca." (QUEIROZ, "Memorial de Maria Moura")
Os materiais percorrem as mãos impregnadas de vivências que vão descobrindo formas e cores. Artesanato repleto de brasilidade. O olhar atento de quem cria, o sentido aguçado de quem constrói.

- Rachel, no artesanato, vidros com cores de areias, arupemba de palha, balaio da carnaubeira. Louça feita de barro, bodoque e algibeira.

- Alencar, o Mestre Noza, era um artista fiel, fazendo a literatura, cumprir social papel. Inter-relacionou xilogravura e cordel.

- “Às vezes sobe aos ramos da árvore e da lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios de crautá, as agulhas de juçara com que tece a renda...” (ALENCAR, “Iracema”)

- “No bolso, pouco dinheiro e um pedaço de fumo. Um chapelão de palha bem trançado e fino, que era a especialidade do mulherio do lugar, mas nenhuma delas se apurava no tecido dos chapéus para vender em quantidade, em alguma feira."[...]"Encomendei à nossa velha louceira, toda a louça de barro, as panelas, potes e alguidares.”(RACHEL DE QUEIROZ, "Memorial de Maria Moura")
Setor 3- “Fica então um bom desejo, que seja lindo seu festejo”

No dedilhar da viola caipira, vamos construindo a folia de brincar. Sagrado e profano andam juntos para bordar rio e mar. A música traz o convite para embarcar no tempo: passado e futuro. A fé aguça o desejo de conhecer novos desafios. Encantamento. Contar a história por meio da palavra e da imagem.

- Rachel dama de fé, as festas folclóricas que tanto animam o sertão são feitas no Ceará, incluindo as do chitão. Reisado e maracatu e Padim Ciço Romão.

- Alencar, meu bom senhor, quadrilhas, cirandas e boi de chifre dourado, são festas bem conhecidas de meu povo rogado. Procissão de São Pedro com barcos enfeitados.

“Logo depois vinham os Reis com as suas cantigas, as suas romarias noturnas, as suas coletas para o jantar do dia seguinte[...] Ao Espírito Santo armavam-se as barraquinhas, e faziam-se leilões de frutos e de aves.“(ALENCAR, “Ao correr da pena”)
"Alguns dizem que o padre está debaixo do chão: os incréus, os materialistas. Porque a gente que tem fé conta que Meu Padrinho, vendo a choradeira do povo, ressuscitou ali mesmo, sentou - se no caixão, sorriu, deu bênção, depois deitou -se outra vez e seguiu viagem dormindo, até à igreja do Perpétuo Socorro." (RACHEL, "O Padre Cícero Romão Batista")
"Então entraram, cada uma de seu lado, duas quadrilhas adereçadas com roupas muito lindas, uma de verde e amarelo, que era a dos pernambucanos, e outra de encarnado e branco, que era a dos lusitanos. Correram primeiro as lanças; depois jogaram as canas e alcanzias, fazendo várias sortres como costumam." (ALENCAR, “O sertanejo”)
“Dançam o congo e suas pantomimas guerreiras, dançam-se as sortes em redor das fogueiras de São João.”(RACHEL, "O Senhor São João")

“A donzela vinha radiante de formosura e graça. Debuxava-lhe o talhe airoso um vestido de lhama de ouro, justo e de estreita roda.” (ALENCAR, “O Sertanejo”)

“Lá pela minha zona, que já é sertão autêntico, o único festejo popular que apaixona e consome dinheiro e energias é o boi. Essa sim, tem ainda muita força no coração do povo. Tem burrinhas com saia de rendas, tem bois com chifre dourado, babaus enfeitados com fitas de gorgorão, e os trajos dos velhos são quase tão caprichados quanto os cordões de carnaval dos cariocas." (QUEIROZ, "O Senhor São João")

"Aproveitemos a estiada da manhã, e vamos, como os outros, acompanhando a devota romaria, assistir à festividade de São Pedro” (ALENCAR, “O Sertanejo”)


Setor 4- “Ser tão arretado de bom”

São tantas horas de sertão rachado, tantos mares desbravados, tantos caminhos trilhados para conhecer novos mundos. A beleza encanta nas trilhas onde tudo leva para qualquer lugar. Florestas enfeitiçadas pela lua, águas doces cristalinas pelos raios do sol ardente, mares verdes como joias de pedras raras. Natureza generosa que nos convida a dar a volta ao mundo girando o globo na própria mão. Viajar de barco, de avião, de ônibus, de trem para desvendar os mistérios durante o percurso.

- Rachel que orgulho tenho, dos fósseis de Cariri ao pé da Ibiapaba. Bichos, flores e frutos, tantas belezas raras. Grande Açude do Cedro, queda d'água abençoada.

- Gosto também, Alencar, de balonismo nos céus, com cores agigantadas. Famosa do litoral, a bela Canoa Quebrada. Parque de Água doce, praias de água salgada.

“Esta imensa campina, que se dilata por horizontes infindos, é o sertão de minha terra natal. Aí campeia o destemido vaqueiro cearense, que à unha de cavalo acossa o touro indômito no cerrado mais espesso, e o derriba pela cauda com admirável destreza...”(ALENCAR, “O sertanejo”)
“Eu também me fazia contar coisas do meu Cariri natal, que era ali tão exótico e distante quanto as agulhas de Cárpatos.”(RACHEL, "As Três Marias") “Veio pelas matas até o princípio da Ibiapaba, onde fez aliança com Irapuã, para combater a nação pitiguara. Eles vão descer da serra às margens do rio em que bebem as garças.” (ALENCAR, “Iracema”)
“E o Cedro grandioso grita, a se remirar no seu paredão alto, nos seus mosaicos, nos correntões que pendem em marcos de granito.”(RACHEL, "Mandacaru")
“A praia ficara deserta; e nas águas tranqüilas da baía, apenas as nereidas murmuravam, conversando baixinho sobre o acontecimento extraordinário que viera perturbar os seus calmos domínios.” (ALENCAR, “Ao correr da pena”)
"Essa ligação de amor que o nordestino tem com a sua terra... Pensando bem, será mesmo de amor? Ou antes: será só amor? Talvez maior e mais fundo, espécie de mágica entre o homem e o seu chão, simbiose da terra com a gente.  Vem na composição do sangue. Aquela terra salgada que já foi fundo do mar tem mesmo o gosto do nosso sangue.” (RACHEL, "As terras ásperas")
Setor 5 - “A beleza arrochada no aprumo”

Um pouco de cera para o couro, um pouco de linha para costurar a vida. Um pouco de mistério nos desenhos que se movem ao caminhar. Milhares de finos fios movimentam-se como tramas de nossos sonhos. O giro do bilro sustenta o equilíbrio e o desejo de novas formas.

- Raquel aqui te digo, o Mestre mais conhecido é Expedito Seleiro. Gibão e mais aparatos que ornamentam o vaqueiro. Moda característica do couro brasileiro.

- O aprumo, amigo Alencar, é moda feita com amor. Moda de dormir, moda de praiar. No salão nobre ou na pista, o artista a desfilar, com riquíssimos atrativos, conquista o além-mar.

"Vestia o moço um trajo completo de couro de veado, curtido à feição de camurça. Compunha-se de véstia e gibão com lavores de estampa e botões de prata; calções estreitos, bolas compridas e chapéu à espanhola com uma aba revirada à banda e também pregada por um botão de prata.“(ALENCAR, “O sertanejo”)
“Olhei para mim mesmo, ali, sentado no chão, a roupa de brim pardo, as grossas botas reiúnas, o lenço no pescoço. Tudo surrado e encardido...”(RACHEL, "Memorial de Maria Moura")
“Ao lado pendia-lhe do talim bordado a espada com bainha também de ouro e copos cravejados de diamantes, como o argolão que prendia-lhe ao pescoço a volta de fina cambraias, cujas pontas caíam sobre os folhos estofados da camisa.” (ALENCAR, “O sertanejo”)
“Preso por um airão de ouro, o longo véu de alva e finíssima renda, todo semeado de raminhos de alecrim e flor de laranja, com lizes de ouro, descia-lhe até os pés, e arfando às auras matutinas.” (ALENCAR, “O Sertanejo”)
"Agora, o quarto onde ela mora é o quarto mais alegre da fazenda, tão claro que, ao meio dia, aparece uma renda de arabesco de sol nos ladrilhos vermelhos.” (RACHEL, "Telha de vidro")
“Ao ombro esquerdo traziam eles alvas toalhas do mais fino esguião lavradas de labirinto com guarnições de renda, trabalhos estes em que as filhas do Aracatí já primavam naquele tempo, e que lhes valeu a reputação das mais mimosas rendeiras de todo o norte”. (RACHEL, “O Sertanejo”)
- Nossa gente tece o mundo, e o mundo se enredou. Com rendas de fino trato, que a rendeira criou. Borda o pano e a vida, que tanto a Ilha cantou.

E assim desfilam peões com couros coloridos pelos salões, damas de rendas formosamente belas pelas areias. Avançam e seguem em frente traduzindo um novo sentido para as histórias desse povo que luta pelo sorriso e pela felicidade. Gente forte, gente guerreira, um sem fim de personagens e suas andanças pelo reino da folia.

“Acabaram com a Praça Onze, mas viva o carnaval da Ilha. Acima de tudo, viva a Ilha.”(QUEIROZ, "Saudades do Carnaval")

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Obras de José de Alencar:

ALENCAR, José de.“O Nosso Cancioneiro”. In: Obra Completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.
“Iracema”. In: Obra Completa. Riode Janeiro: Editora José Aguilar, 1959.
“Ao correr da pena”.In: ObraCompleta. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1960.
“Como e porque sou romancista”. São Paulo: Companhia Aguiar Editora, 1959.
“O Sertanejo”. 13 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
“O Guarani”. São Paulo: Ática, 2003.

Obras de Rachel de Queiroz:

QUEIROZ, Rachel de.“As Três Marias”. Rio de Janeiro: José Olympio,1979.
“O Quinze”. São Paulo: Siciliano, 1997.
“O Não Me Deixes: suas histórias e sua cozinha”.São Paulo: ARX, 2004.
"Memorial de Maria Moura”. Rio de Janeiro:José Olympio, 2007.
“O nosso Ceará”. Fortaleza:Fundação Demócrito Rocha, 1996.


Outras obras consultadas:

CAVALCANTE, Tiago Vieira. “Geografia literária em Rachel de Queiroz”. Rio Claro-SP: Tese (doutorado) -
Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, 2016.
HOLLANDA, Heloisa Buarque de. “Coleção Melhores Crônicas: Rachel de Queiroz”. São Paulo: Global,2012
NERY, Hermes. “Presença de Rachel: conversas informais com a escritoraRachel de Queiroz”.
Ribeirão Preto: FUNPEC-Editora, 2002.


Autor: Severo Luzardo Filho

*Texto divulgado à imprensa




 
“O Salvador da Pátria”

SINOPSE


Vocês que fazem parte dessa massa irão conhecer um mito de verdade: nordestino, barbudo, baixinho, de origem pobre, amado pelos humildes e por intelectuais, incomodou a elite e foi condenado a virar símbolo da identidade de um povo. Um herói da resistência!
Não posso provar, mas tenho total convicção da autenticidade de tudo o que a ele atribuíram…

Não se sabe muito bem de qual paragem veio aquele cabra, ou melhor, bode. Dizem que era retirante da grande seca no sertão cearense imortalizada pela escritora Rachel de Queiróz, em O Quinze. Naqueles tempos de República quase balzaquiana, o Governo interceptava as procissões de fugitivos da miséria. Com medo de uma invasão furiosa, devido à fome que consumia aqueles esquecidos teimosos em se fazerem lembrar, pastorava o povaréu num campo de concentração antes que chegassem até a cidade. Porém, como o sertanejo é, acima de tudo, um forte, quando viu a terra ardendo e sentiu a baforada do Zé Maria no cangote o bode bumbou até Fortaleza com a coragem e a cara.

Penou, mas chegou.

Sentiu a brisa fresca do litoral acariciar aquela carcaça sofrida, castigada. Deixou para trás o passado capiongo, quando foi comprado por José de Magalhães Porto, representante do industrial Delmiro Gouveia, correspondente da empresa britânica que comercializava couros, peles, sementes de algodão e borracha, a Rossbach Brazil Company, localizada na Rua Dragão do Mar, Praia do Peixe. Dali virou mascote com direito à liberdade de ir e vir que, aliás, era bem praticada. Apreciava o movimento de barcos e jangadas enquanto perambulava entre os pescadores e seguia o aroma dos tabuleiros das merendeiras, tanto que os populares da região logo se afeiçoaram ao bichim. Dizem até ter remoçado em sua nova vida à beira-mar.

Ao cair da tarde, arribava pra Praça do Ferreira sassaricar com os artistas e intelectuais, herdeiros da Padaria Espiritual, no Café Java. Os boêmios acreditavam ser o poeta Paulo Laranjeira, reencarnado depois que o cabrão reagiu ao ouvir uma composição feita pelo desencarnado em homenagem a sua decepção amorosa. Desde então, o bode caiu nos braços da boemia. Bebericava, pitava, serestava pelas ruas, vielas e mafuás, botando boneco noite a fora.

De tanto vai e vem passou a ser chamado de Ioiô.

E lá se ia o bode Ioiô bater seus cascos Belle Époque alencariana adentro, sem a menor cerimônia, entre as modas copiadas do estrangeiro pelas “pessoas de bem” da sociedade. Passeou de bonde elétrico, frequentou o Theatro José de Alencar, participou de saraus literários e até comeu a fita inaugural do Cine Moderno.

Sentiu as Mademoiselles espilicutes exalando um perfume de civilidade europeia quando saíam da Maison Art-Nouveau em direção ao Passeio Público. Doce aroma que era constantemente interrompido pelo peculiar cheirinho de certo bode que dava rabissaca pro Código de Conduta imposto que, dentre muitas medidas disciplinadoras, proibia animais soltos nas ruas. Um Dândi sertanejo tão incômodo como as camadas pobres e marginalizadas as quais o poder desejava esconder por debaixo dos tapetes chiques para não atrapalharem o savoir-vivre nas avenidas, confeitarias, jardins, clubes e salões. Assim, velhos hábitos considerados de gente subdesenvolvida deveriam ser substituídos por novos costumes, os bons modos. Tanto cidade quanto população careciam ser modificadas, remodeladas num choque de aformoseamento. Afinal, para a elite, as maravilhas do mundo moderno não harmonizavam com a matutice do povo.

Povo, aliás, que já era mamulengo nas mãos dos poderosos, há muito tempo. A política republicana havia herdado antigos sistemas coloniais que se consolidaram em influentes famílias tradicionais e no domínio dos coronéis latifundiários, pois a prática do “manda quem pode e obedece quem tem juízo” era um tiro certeiro. Cabia à população ser tratada como gado trazido em cabresto curto, quais as aves de rapina direcionavam para onde quisessem, e cativos em currais eleitorais para que ela mesma sustentasse o sistema que a prejudicava.

Com um cenário governamental mais parecido com um covil repleto de animais nocivos ao interesse público e a feérica intervenção de aculturamento, a insatisfação popular só crescia. Até que a resposta do povaréu veio em forma de protesto no mais inesperado momento: nas eleições. Ao abrir a urna eleitoral se ouviu o berro do povo escrito nos votos que elegeram o bode Ioiô para vereador na Câmara Municipal de Fortaleza. Um deboche com os poderosos. Molecagem porreta! Sem ter feito campanha um animal ruminante era eleito pelo povo como seu representante! E, de fato, há muito já era um símbolo da identificação sertaneja que a elite (ameaçada pelas cédulas de papel) queria suprimir.

Contam que o fuá já estava instalado quando os poderosos articularam um golpe para que o bode Ioiô sofresse um impedimento e não assumisse o cargo ao qual foi eleito legitimamente, em processo democrático. Porém, a justificativa jurídica de incompatibilidade de espécie não livrou os políticos daquele vexame retumbante e só alimentou o monstro: Ioiô saiu da vida pública para entrar na história.

O bode mitou. Até hoje seus admiradores o defendem como ícone de empoderamento popular, representatividade dos marginalizados. Segue comandando a revolução do inconformismo seja nas lembranças dos memorialistas, nos cordéis, nos livros, na sala de um museu ou pelos blocos carnavalescos. Ioiô é a imagem da resiliência de um povo que faz graça até da própria desgraça e, com esse jeitinho inigualável, nos revela o genuíno salvador da nossa pátria: o bom humor.

[Isso aqui, Ioiô, foi um pouquinho de Brasil].


Lembrete:

Votar em animais é e sempre será possível.

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Bibliografia consultada:

BRUNO, Artur; FARIAS, Airton de, Fortaleza: uma breve história, Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2015.
GIRÃO, Raimundo, Geografia estética de Fortaleza, Fortaleza: Edições BNB, 1979.
MANUELA DA SILVA VIEIRA, Carla, O Theatro José de Alencar do início do século XX: modernidade e sociabilidades
(1908-1912), Fortaleza: SECULT, 2011.
PONTE, Sebastião Rogério, Fortaleza Belle Époque: reforma urbana e controle social 1860-1930, Fortaleza:
Edições Demócrito Rocha, 2014.
SILVA, Marco Aurélio Ferreira da, Humor, vergonha e decoro na cidade de Fortaleza (1850-1890), Fortaleza:
Museu do Ceará, SECULT, 2009.
VIEIRA, Carla M, Sociabilidade e Lazer: Fortaleza no início do século XX, Fortaleza: INESP, 2015.

Carnavalesco: Jack Vasconcelos

*Texto divulgado à Imprensa



 

“História para ninar gente grande”
SINOPSE

HISTÓRIA PRA NINAR GENTE GRANDE é um olhar possível para a história do Brasil. Uma narrativa baseada nas “páginas ausentes”. Se a história oficial é uma sucessão de versões dos fatos, o enredo que proponho é uma “outra versão”. Com um povo chegado a novelas, romances, mocinhos, bandidos, reis, descobridores e princesas, a história do Brasil foi transformada em uma espécie de partida de futebol na qual preferimos “torcer” para quem “ganhou”. Esquecemos, porém, que na torcida pelo vitorioso, os vencidos fomos nós.

Ao dizer que o Brasil foi descoberto e não dominado e saqueado; ao dar contorno heroico aos feitos que, na realidade, roubaram o protagonismo do povo brasileiro; ao selecionar heróis “dignos” de serem eternizados em forma de estátuas; ao propagar o mito do povo pacífico, ensinando que as conquistas são fruto da concessão de uma “princesa” e não do resultado de muitas lutas, conta-se uma história na qual as páginas escolhidas o ninam na infância para que, quando gente grande, você continue em sono profundo.

De forma geral, a predominância das versões históricas mais bem-sucedidas está associada à consagração de versões elitizadas, no geral, escrita pelos detentores do prestígio econômico, político, militar e educacional – valendo lembrar que o domínio da escrita durante período considerável foi quase que uma exclusividade das elites – e, por consequência natural, é esta a versão que determina no imaginário nacional a memória coletiva dos fatos.

Não à toa o termo “DESCOBRIMENTO” ainda é recorrente quando, na verdade, a chegada de Cabral às terras brasileiras representou o início de uma “CONQUISTA”. E, ao ser ensinado que foi “descoberto” e não “conquistado”, o senso coletivo da “nação” jamais foi capaz de se interessar ou dar o devido valor à cultura indígena, associando-a “a programas de gosto duvidoso” ou comportamentos inadequados vistos como “vergonhosos”.

Comemoramos 500 anos de Brasil sem refazermos as contas que apontam para os mais de 11.000 anos de ocupação amazônica, para os mais de 8.000 anos da cerâmica mais antiga do continente, ou ainda, sem olhar para a civilização marajoara datada do início da era Cristã. Somos brasileiros há cerca de 12.000 anos, mas insistimos em ter pouco mais de 500, crendo que o índio, derrotado em suas guerras, é o sinônimo de um país atrasado, refletindo o descaso com que é tratada a história e as questões indígenas do Brasil. Não fizeram de CUNHAMBEMBE – a liderança tupinambá responsável pela organização da resistência dos Tamoios – um monumento de bronze. Os índios CARIRIS que se organizaram em uma CONFEDERAÇÃO foram chamados de BÁRBAROS. Os nomes dos CABOCLOS que lutaram no DOIS DE JULHO foram esquecidos. Os Índios, no Brasil da narrativa histórica que é transmitida ainda hoje, deixaram como “legado” cinco ou seis lendas, a mandioca, o balanço da rede, o tal do “caju”, do “tatu” e a “peteca”.

Levando em conta apenas pouco mais de 500 anos, a narrativa tradicional escolheu seus heróis, selecionou os feitos bravios, ergueu monumentos, batizou ruas e avenidas, e assim, entre o “quem ganhou e quem perdeu”, ficamos com quem “ganhou.” Índios, negros, mulatos e pobres não viraram estátua. Seus nomes não estão nas provas escolares. Não são opções para marcar “x” nas questões de múltiplas escolhas.

Deram vez a outros. Outros que, por certo, já caíram nas suas “provas”. Você aprendeu que os “BANDEIRANTES” – assassinos e saqueadores – eram os “bravos desbravadores que expandiram as fronteiras do território nacional”. DOM PEDRO, o primeiro, você “decorou” que era o “herói” da Independência, sem que as páginas dos livros contassem a “camaradagem” de um “negócio de família” tão bem traduzido pela frase do PAI do Imperador, que a ele orientou: “ponha a coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça”. Convém esclarecer aqui que os “aventureiros” citados por DOM JOÃO éramos nós, brasileiros, e que a “independência” proclamada – ou programada – foi para evitar que tivéssemos aqui “aventureiros” como Bolivar ou San Martin, patriarcas bem-sucedidos das “independências” que não queriam por aqui.

Como “CABRAL”, o “ladrão”, que roubou o Brasil lá pelas bandas de mil e quinhentos, ou PEDRO I, que através de um acordo “mudou duas ou três coisas para que tudo ficasse da mesma forma”, tem também o Marechal, o DEODORO DA FONSECA, homem de convicções monarquistas – amigo pessoal do Imperador PEDRO II – autor da proclamação de uma República continuísta – sem participação popular – traduzida em golpe e que, na ausência de líderes, mandou “pintar” um retrato do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o TIRADENTES, na tentativa de produzir “um personagem pra chamar de seu”.

Se a República foi “golpe”, conclui-se que “golpe” no Brasil não é novidade. Nem é novidade que a natureza dos “golpes” ainda estejam mal contadas. A rodovia CASTELO BRANCO “corta” São Paulo com “nome de batismo” em homenagem ao primeiro general “do GOLPE DE 1964”. Para cruzar a Baía da Guanabara em direção a Niterói, lá está a ponte PRESIDENTE COSTA E SILVA, o mesmo que fechou o Congresso Nacional e aditou o AI-5 suspendendo todas as liberdades democráticas e direitos constitucionais. Em Sergipe, em dias de jogos, a bola rola no estádio PRESIDENTE MÉDICI, o general dos “ANOS DE CHUMBO”, do uso sistemático da tortura e dos violentos assassinatos. Nas ruas – por terem lido um livro que “ninou” e não “ensinou” falando da suspensão dos direitos humanos, da corrupção e dos assassinatos cometidos no período – aparecem faixas para pedir “intervenção militar”, décadas depois da redemocratização.

Sem saber quem somos, vamos a “toque de gado” esperando “alguém pra fazer a história no nosso lugar”, quiçá uma “princesa”, como a ISABEL, a redentora, que levou a “glória” de colocar fim ao mais tardio término de escravidão das Américas. Nunca esperaremos ser salvos pelos tipos populares que não foram para os livros. Se “heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referências, fulcros de identificação” a construção de uma narrativa histórica elitista e eurocêntrica jamais concederia a líderes populares negros uma participação definitiva na abolição oficial. Bem mais “exemplar” a princesa conceder a liberdade do que incluir nos livros escolares o nome de uma “realeza” na qual ZUMBI, DANDARA, LUIZA MAHIN, MARIA FELIPA assumissem seu real papel na história da liberdade no Brasil.

O fato é que a atuação de “gente comum”, ou mesmo a incansável luta negra organizada em quilombos, em fugas, no esforço pessoal ou coletivo na compra de alforrias e em revoltas ou conspirações, já enfraqueciam o sistema escravocrata àquela altura. Entretanto, ensinar na escola o nome de “CHICO DA MATILDE”, jangadeiro, mulato pobre do Ceará (líder da greve que colocou fim ao embarque de escravos no estado nordestino, levando-o à abolição da escravatura quatro anos antes da princesa ganhar sua “fama” abolicionista) não serviria à manutenção da premissa de que as conquistas sociais resultam de concessões vindas “do alto” e não das lutas. A história de CHICO DA MATILDE era inspiradora demais para o povo. Não à toa, seu nome não está nos livros.

Esses nomes não serviram para eles. Para nós, eles servem. Para nós, sentinelas dos “ais” do Brasil, heróis de lutas sem glórias ainda deixados “de tanga” ou preso aos “grilhões”, eles são as ideias que usaremos para “gestar” o que virá. “Engravidados” de novas ideias, jorrará leite novo para “amamentar” os guris que virão. Sabendo outra versão de quem é o Brasil, – não a que nos “ninou” para quando fôssemos adultos – sabendo que CABRAL “invadiu” e que, ao invés de quinhentos e dezenove anos, somos brasileiros há quase doze mil anos. Conhecendo CUNHAMBEBE, a CONFEDERAÇÃO DOS CARIRIS, cientes da participação dos CABOCLOS na luta do 02 DE JULHO NA BAHIA, e sabendo que os índios lutaram e resistiram por mais de meio século de dominação, talvez se orgulhem da porção de sangue que faz de TODOS NÓS, sem exceção, índios. Sabendo que a “bondosa” princesa Isabel deu vez a “Chico da Matilde”, “Luiza Mahin” e “Maria Felipa”, é possível que reconheçam em si a bravura que vive à espreita da hora de despertar e aí, talvez, o “gigante desperte sem ser para se distrair com a TV”.

Cientes de que nossa história é de luta, teremos orgulho do Brasil. Alimentados de leite novo e bom, varreremos de nossos “porões” o complexo de “vira-latas” que fomenta nossa crença de inferioridade. Veremos tanta beleza na escultura de ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA quanto no quadro que eterniza o sorriso da Monalisa. Nos orgulharemos do “tupi” que falamos – mesmo sem saber. Daremos mais cartaz ao saci do que à “bruxa”. Brincaremos mais de BUMBA MEU BOI, CIRANDA E REISADO. Nossas crianças enxergarão tanta coragem no CANGACEIRO quanto no “cowboy”. Vibraremos quando SUASSUNA estrear em “ROLIÚDE” sem tradução para o SOTAQUE de João Grilo e Chicó. Não estranharemos caso o Mickey suba a ESTAÇÃO PRIMEIRA, troque “my love” por “minha nêga” e mande pintar o “parquinho” da Disney com o VERDE E O ROSA DA MANGUEIRA.
Carnavalesco: Leandro Vieira

*Texto divulgado à Imprensa




 



"Eu sou o Tempo. Tempo é Vida."

APRESENTAÇÃO


Mais um carnaval se apresenta. É o tempo que passa e novamente estamos aqui, carregando no peito a estrela da Mocidade Independente de Padre Miguel, que leva em seu nome a eterna juventude. Para a Mocidade, que será sempre jovem, o tempo é fonte de inspiração no carnaval de 2019. Eu sou o tempo, nós somos o tempo. Já pensou nisso? Todos construímos os nossos momentos e embalamos as nossas histórias nos braços de algo intocável, incontrolável e, por vezes, imensurável. Passa rápido, devagar, não volta, não perdoa e queremos sempre mais. Tempo é vida; a vida é o tempo. Por isso, relaxe e embarque nesse sonho com a gente. Venha aproveitar esses momentos e monte o quebra-cabeças da sua própria história. Deixe a sua mente bailar, no ar, em novos tempos. É tempo de Mocidade!


Sinopse do enredo


Eu sou o Tempo. Tempo é Vida.

Tempo, tempo, tempo, tempo.
As batidas do meu coração marcam o compasso no tambor do samba, quando ecoa o apito da partida do trem da vida, nos trilhos do tempo, caminho infinito, riscado no espaço pela cauda de luz da estrela-guia, que cria um vácuo de sonho que a ciência desafia e que invade a morada de Cronos, a antimatéria que brilha, magia, e que se comprime e se expande, se dobra, retrocede e avança, num vai e vem que se esvai e se lança numa viagem louca, do presente ao passado e, numa reviravolta, de volta para o futuro.

Tempo que aqui se define ou que nasce indefinido, num tempo quando o tempo sequer existia no mundo, fruto do Caos, num dado momento, quando o Céu se encontrou com a Terra e concebeu o titã implacável, senhor da razão e do destino, o tempo que se mede desmedindo.

Tempo que a humanidade buscou entender acompanhando a dança dos astros, bailando entre a luz e a treva, dia e noite se repetindo e se reinventado constantemente, luas e marés mutantes, pois nada é igual ao que era antes, antes de tudo mudar. Tempo de florescer, de plantar e de colher, tempo de hibernar e de buscar onde se aquecer, tempo a brotar em épocas, ritos em profusão, oferendas, estações, declarações de fé em solstícios e equinócios, sagrações da primavera em cada alvorecer.

Tempo de descobrir, marcar, calcular. Quanto tempo o tempo tem? Tempos remotos de se observar o Sol a riscar de sombra a haste sobre a terra, horas que se desenham, nas gotas da clepsidra, tempo que orna e transborda. Tempo que ocioso passeia, de cima para baixo, e que se revira nas ampulhetas - o tempo que desliza nas areias, vira-virando o mistério.

Tempos idos medidos em calendários antigos, civilizações e impérios - apogeu e queda. Tempo que do universo é o regente e que em ciclos se divide no lado de cá do ocidente, envolto em enigmas entre o povo Maia, tempo que se faz serpente. Tempo viril, "yang", que fecunda as terras do oriente, regando de chuva o seu chão. Tempo que se faz festejado, tão aguardado, tempo mítico dragão.

Tempo que gira perverso: eis que é tempo de inventar o tempo e de se aprisionar dentro dele. Engrenagens em movimento, tic-tac, relógios, máquinas do tempo pra lá e pra cá em um pêndulo. Som das horas a despertar, o galo que já cantou. Tempo que urge, a pressa, é cedo, é tarde, é hora de trabalhar, tempo que corre, dispara, tempo que é dinheiro, aposta, notícia, tempo de vida, o tempo que de fato não para.

Tempo que jaz no tempo, repousado nas camadas de tempos passados. O tempo redescoberto, preservado em museus e livros, frases então reveladas, arquivo do tempo. Tempo que brilha em mentes a frente do próprio tempo e, tal qual uma equação, viaja anos-luz na imensidão. Ciência equilibrada em teorias que em dobras do tempo, faz o longe quase perto e se teletransporta. Ou não? Tempo virtual, memória atemporal que a tecnologia armazena no ar, nas nuvens. O que antes era ficção científica, hoje é realidade. Tempo que se congela estéril na ilha glacial, Aíon, guardião da eternidade, faz da grande geladeira a nossa herança, a esperança de preservação.

Tempo, indomável tempo, de Kairós, o fragmento, único como o sopro divino, tempo de Deus que não é medido, tempo para ser vivido, sem pressa, sem medo, vida que segue, tempo indesvendável, tempo que é segredo e árvore sagrada.

O toque da inspiração vem num estalo de tempo: a arte se faz imortal e se eterniza na memória, de geração a geração, de voltas e reviravoltas, na tela do carnaval ou em uma explosão de cor no meio desse povo, assim como a nossa escola, que atravessou os trilhos do tempo e se imortalizou na história. Tempos de glórias, descritos por seus poetas nos seus lindos sambas, das paradinhas inesquecíveis, dos seus gênios artistas que lançaram tantas cores nos seus tantos carnavais. Ela, a eterna juventude, Mocidade Independente, que carrega a estrela, que é o cosmo, como emblema, o verde da brotação que se renova e o branco da paz de espírito. É possível parar o tempo na síncope do batuqueiro. Hoje o trem que transporta o futuro, que recuperou o tempo perdido, na vanguarda, redemoinho, acelera e retorna orgulhoso, na certeza de novas conquistas - e conduz a sua gente à mais infinita alegria!

Vira-tempo no templo do samba, eis que chega o nosso momento.
Uma voz ecoa na noite:
"Vamos lá! A hora é essa!"
Coloque a fantasia, ouça o som da bateria.

É tempo de desfilar!

Carnavalesco: Alexandre Louzada


*Texto divulgado à Imprensa



































 

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