Reservas de frisas para desfiles do Grupo Especial será nesta terça-feira, 28 de outubro, de 9 às 13 horas | |
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rio de janeiro e suas belezas
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
28 DE OUTUBRO DIA DE RESERVAR FRISAS PARA O CARNAVAL 2015
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
ENREDO DA UNIDOS DA VIRADOURO PARA 2015
O ENREDO DA ESCOLA DE SAMBA VIRADOURO PARA 2015 AINDA NAO FOI DIVULGADO
JÁ ADIANTARAM O TÍTULO DO SAMBA ENREDO, MAS NAO DIVULGARAM O ENREDO
SAMBA DEFINIDO | "Nas veias do Brasil, é a Viradouro em um dia de graça" |
RIO DE JANEIRO CIDADE MARAVILHOSA
Rio dos cariocas,
das praias,
de São Sebastião.
Rio das moças douradas,
das escolas de samba,
de Garrincha e do Carnaval.
Este nosso Rio,
que parece ser o modelo
do Carnaval para o mundo,
abriga a emoção do
cidadão camarada,
das tribos e nações,
do samba em cada esquina,
da alegria e da predisposição de ser a Cidade, para sempre, Maravilhosa.
das praias,
de São Sebastião.
Rio das moças douradas,
das escolas de samba,
de Garrincha e do Carnaval.
Este nosso Rio,
que parece ser o modelo
do Carnaval para o mundo,
abriga a emoção do
cidadão camarada,
das tribos e nações,
do samba em cada esquina,
da alegria e da predisposição de ser a Cidade, para sempre, Maravilhosa.
CONHECENDO O ENREDO DA UNIDOS DA TIJUCA
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
"UM CONTO MARCADO NO TEMPO - O OLHAR SUÍÇO DE CLÓVIS BORNAY" |
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Departamento de Carnaval: Mauro Quintaes, Annik Salmon, Hélcio Paim, Marcus Paulo e Carlos Carvalho Ainda me lembro, sentado aos pés do meu pai... entre as páginas dos livros, ouvindo suas histórias de uma terra mágica, viajava nos contos encantados que davam vida aos cavaleiros medievais montados em ginetes, cavalgando em direção aos montes gelados e brancos. Dragões alados sobrevoavam castelos e aldeias, o povo aterrorizado, fez um pacto até mesmo com o diabo para construir uma ponte e, assim, seguir seu caminho. Minha imaginação me embalava; ali eu estava, guardado pelas emoções o tempo não passava. Os ponteiros do relógio bailavam em prosa e verso, eu ali continuava, despertando personagens sem fronteiras nesse universo. Fiquei admirado com um bravo caçador, de pontaria certa, salvou seu filho da tirania fatal. Homem de bem, respeitado por todos, lutou pela independência de sua terra e pela liberdade de seu povo. Subindo aqueles montes gélidos, forrados por nobres estrelas brancas que caiam do céu, vivia um lendário gigante soprando ventos frios, congelando plantações e lagos ao léu. Eis que surge para salvar os que estavam a precisar, o anjo dos Alpes sempre pronto a zelar. A cada instante, minhas lembranças giravam como engrenagens de uma caixinha de música, dando vida a uma variedade de proezas e façanhas que jamais pude imaginar, onde em um instante tudo cabia no bolso, na palma da mão, tantas ferramentas em uma só. Em outra caixa, curioso fiquei, nelas senhas secretas que nem mesmo o tempo era capaz de apagar. De repente, deparo-me com um novo tempo que se forma, ponteiros a girar em todas as direções. "Uma nova hora começou! Aproveite-a sabiamente" - assim o cuco falou. Livros, então, passaram a registrar pensamentos e teorias escritas por um homem de mente brilhante e coração puro, que, no girar dos ponteiros, viajou a um futuro, transformando o tempo em fórmulas, fórmulas em sonhos, e sonhos em realidades. O tempo voa, o tempo vai, o tempo me leva na brilhante história de um viajante a planar entre o céu e o mar na aeronave que tem o sol a te alimentar. Assim, um novo tempo se anuncia. Pessoas que passam pessoas que vêm e que ficam. Bandeiras que voam, dançam e giram acompanhadas de trompas gigantes encantadas, soando uma melodia em perfeita harmonia. Mas vejam só: nessa história fascinante, um escultor transformou o movimento, alcançando todos seus desejos, fazendo com que sua arte fosse importante para aquela terra de cores. Cores que protegiam, em tempos distantes em que guardas fardados defendiam igrejas, vestindo ricos trajes. Cores que brincavam sobre folhas brancas, riscos e traços que conduziam a cadência pintavam o que eu não via. Atravesso, então, para um tempo futuro, nos filmes de máquinas e seres viajantes. Gotas de chuva caem do céu, passeiam entre as nuvens, descem montanhas, alimentam pastos e fontes. Entro em uma página que uma fábrica se faz presente. Sinto o gosto de tudo que já comi, de tudo que já bebi. Litros e mais litros do mais puro leite, repleto de aromas e sabores, são transformados em passe de mágica em queijos empilhados. E lá do alto vejo uma coroa a reluzir, nossa... existe um rei ali! Percebo o giro dos ponteiros, como a colher do cozinheiro mexendo sem parar. Cachos de uvas enfeitam todos os cantos. São cascatas e rios dos mais deliciosos chocolates, levando meu paladar a percorrer minhas lembranças. E o cuco? Novamente alegre a cantar, anuncia "A fábrica não pode parar!" As páginas do livro vão se acabando. Vejo que as histórias de ontem e de hoje misturam-se com as do amanhã. Percebo diante dos meus olhos uma avenida estendendo-se a mim, aqui e acolá, festas que duram o ano inteiro, até o sol brilhar. Foliões fantasiados fazem soar instrumentos, girando os ponteiros da engrenagem do tempo, bailando em versos despertando luzes acesas e o brilho das cores. Agora não mais uma criança e sim um folião a desfilar, ainda fascinado pelos contos daquele lugar. Encontro-me em meio à Sapucaí, de tantos carnavais, que sempre festejei. Escrevo mais um conto marcado no tempo, neste lugar de riquezas mil, laços Suíça-Tijuca-Brasil. Clóvis Bornay |
CONHECENDO O ENREDO DA IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
AXÉ, NKENDA! UM RITUAL DE LIBERDADE E QUE A VOZ DA IGUALDADE SEJA SEMPRE A NOSSA VOZ! |
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Carnavalesco: Cahê Rodrigues Pesquisa e Texto: Marta Queiroz e Cláudio Vieira "Ninguém nasce odiando uma pessoa por sua cor de pele ou religião. Pessoas são ensinadas a odiar. E se elas aprendem a odiar, elas podem ser ensinadas a amar." - Nelson Mandela Axé! Ouçam a voz do vento. Prestem atenção no que ela tem a nos contar. Lembra do tempo em que as estrelas coroavam o nosso pensamento e, com ele, começavam a brilhar. Nossos ancestrais conviviam em harmonia com a natureza e a sabedoria dos animais. Construíram uma gigantesca família, se espalharam pelo mundo e, por onde passavam, abriam novos caminhos para semear o amor e a paz. Naquele tempo, não havia longe, nem perto; nem errado, nem certo; e reinava uma exuberante floresta onde, hoje, padece o maior de todos os desertos. Caminhando pela savana, reunidos em torno da fogueira, celebrávamos a chegada e a partida, como se o direito de ir e vir fosse uma certeza prometida. Baobá, árvore querida... Aprendemos a cantar, o segredo da rima, rimando a pureza das palavras com a beleza da melodia: alegria com nobreza, mistérios com fantasia. Baobá, árvore querida... Conduz nosso canto até onde moram os deuses do infinito. E que eles cubram com o manto da noite o ventre de Mãe África, onde dormem as matrizes da vida. África, Triângulo Sagrado, banhado por um oceano de cada lado. Ao Norte, o próspero Mediterrâneo; a Leste, o reluzente Índico; a oeste, o tenebroso Atlântico. Ao Norte, entre o mar e o Saara, brotaram as suas primeiras civilizações, verdadeiras joias-raras: o esplendor do Egito, o empreendedor Cartago e o Marrocos de Alah. A Leste, velas tremulavam, salpicando o mar. Traziam sedas da China, tapetes da Pérsia e temperos da Índia. Do Reino do Sudão levavam o ouro e outros metais preciosos. Entre os paralelos do Equador, existe uma majestosa floresta, onde o homem não se cansa de tirar, nem os deuses se cansam de repor. Além de árvores, plantas e espécies fantásticas, existem rios e cachoeiras que os nossos olhos são poucos para admirar. Não existe na Terra, tamanha diversidade, incrível quantidade de vegetais e animais - embora, não faça muito tempo, houvesse muito mais. São Zulus, Massais, Bantos, Mossis, Bokongos e Hauçás clamando por liberdade e paz! Os mistérios da Natureza vão além da compreensão. Explode o raio, grita o trovão, a cheia inunda o vale, a terra vomita fogo pela boca do vulcão. A cachoeira chora, a lua cheia anuncia que algo acontecerá antes do raiar do dia. Ao som de tambores, lendas, mistérios, curas e magia constroem mitos e aventuras, cultos e culturas. Essa é a nossa liturgia. Vivemos numa terra de contrastes permanentes. O mais velho dos continentes possui a população mais jovem do planeta - com sonhos ainda latentes. Também pudera... Nenhum outro continente sofreu tantas transformações, tantas violações, em tão pouco tempo! Nossos guerreiros não conseguiram impedir a marcha do invasor. Suas preces foram sufocadas pelos canhões. Perdemos nossos bens, muitas vidas, dialetos e nações. O pranto foi pouco para tanta dor... Fomos submetidos aos mais diferentes tipos de colonialismo. Aprendemos as mais contundentes formas de respeitar o "senhor". A pior delas foi o racismo - linha reta entre quem manda e é mandado. Nos impuseram uma nova etnia, religiões, obrigações, devoções e economia. Fomos escravizados à tecnologia, em nome de um mundo "civilizado". Pelas janelas do Atlântico, nossos olhos ainda choram amargas lembranças, vendo nossos irmãos partirem para terras desconhecidas. Não houve despedida, nenhuma notícia, nenhuma esperança. Uma delas fica do outro lado do oceano e se chama Brasil. É uma terra muito parecida com a nossa: tem florestas, praias, muitos rios, clima quente, clima frio, gente que ginga, brinca e que também faz festa na roça. Irmãos do Congo, Angola, Daomé, Gaô e Jané foram levados para lá. Carregaram na lembrança nossos deuses, nossas danças, nossa música, bebidas e comilanças, misturando nosso sangue ao brasileiro. É por isso que eles são tão festeiros. Não fazem uma roda sem que haja um tambor, berimbau, reco-reco e agogô. Cantam em iorubá, rimam em nagô e começam a sambar. O que era uma roda vira festa, colorindo o país de Norte a Sul. Vem maracatu... boi-bumbá, congada, capoeira, reisado, umbigada, é jongo a noite inteira. Como num rap, ou num partido-alto, criam vários sentidos com a magia das palavras... Acarajé, quibebe, munguzá, Caruru, abrazô, vatapá... "Gererê, sarará, cururu Olerê! Balá-blá-blá, bafafá, sururu. Olará!" E vejam só que interessante... Depois das lágrimas de uma chegada angustiante, nasceram festas e folias que alegram o povo até os nossos dias. Nossos irmãos rezavam para os deuses que não eram seus. Cantavam músicas que não eram suas. E fechavam as procissões que se arrastavam pelas ruas. Foi assim que aprenderam a desfilar. Nasceram irmandades de bambas, organizadas como verdadeiras Escolas de Samba! Que, aliás, são Escolas de Cultura e Arte Africanas! Nelas se aprende as coisas mais elementares da vida: Por exemplo... uma banana, subvertida como símbolo de racismo, na verdade é o africanismo mais popular do Brasil... E se não devemos dar asas para o mal, podemos transformá-lo numa brincadeira de carnaval. Que tal? Cantemos a LIBERDADE! E para que ela abrisse as asas sobre nós, tivemos que ser fortes de verdade. Aprendemos com Zumbi, com os Malês, Manoel Congo, João Cândido e outros irmãos que já não estão aqui. Mas deixaram um caminho a seguir. Aprendi que a vida é um permanente ritual de liberdade. Lutando por justiça, movimentos se espalharam pelo mundo inteiro. Estão documentados nos livros, no cinema, no teatro, na música, nas artes plásticas, nos grafites, por toda parte. Foi por ela que dediquei toda a minha existência. E faria tudo novamente. Para que esta mensagem fosse tão transparente como as nossas águas, buscamos um caminho sem mágoas, procurando sempre a simplicidade. É como a África, mãe de tantas diversidades, lutando sempre por justiça. Foi a forma que encontramos para mostrar a verdade. Precisamos semear nos livros, nas escolas, nas mentes e nos corações. Precisamos reconstruir o continente africano e a mentalidade de muitos. Precisamos escrever uma nova História de Vida, pontuada de ações humanas, fraternas e solidárias! Precisamos despertar em nossos irmãos, o mais difícil de todos os desejos: o de aprender a amar. Para que, então, a voz da igualdade seja sempre a nossa voz Este será o nosso maior desafio. Axé, Nkenda! Nelson Mandela Céu - Departamento da África do Sul, Mvezo GLOSSÁRIO NKENDA - Amor, segundo o Kimbundu, língua africana falada no Noroeste de Angola. BAOBÁ (Andansonia digitata) - Também chamado de embondeiro. Árvore que pode atingir 25 m de altura e 7 m de diâmetro. É a árvore nacional de Madagascar, emblema do Senegal e considerada sagrada em todo o continente africano. ZULUS, MASSAIS, BANTOS, MOSSIS, BOKONGOS e HAUÇÁS - Algumas das mais tradicionais etnias africanas. Acarajé, quibebe, munguzá, caruru, abrazô, vatapá - Comidas e iguarias da culinária africana. "Gererê, sarará, cururu/ Olerê!/ Balá-blá-blá, bafafá, sururu/ Olará!" - trecho da letra de "Querelas do Brasil", música de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, gravada por Elis Regina. |
CONHECENDO O ENREDO DA UNIÃO DA ILHA
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
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CONHECENDO O ENREDO DA BEIJA-FLOR
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
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CONHECENDO O ENREDO DA PORTELA
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
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quarta-feira, 22 de outubro de 2014
CONHECENDO O ENREDO DA SÃO CLEMENTE
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
"A INCRÍVEL HISTÓRIA DO HOMEM QUE SÓ TINHA MEDO DA MATINTA PERERA, DA TOCANDIRA E DA ONÇA PÉ DE BOI" |
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Carnavalesca: Rosa Magalhães Em Rio Branco era assim, um florestão envolvendo a cidade. Ninguém adentrava na mata - "Tá doido, seu?" - era habitada pela bruxa Matinta Perera, que calava o uirapuru mas que sumia com a chuvarada, por um bicho brabo, o gogó de sola, de dentada perigosa feito cobra, pela formiga tocandira, pela onça do pé de boi, que todo mundo jura que existia, com pé de boi e tudo. Pois foi lá nesse lugar tão longe que nosso personagem passou a infância. Foi crescendo até que um dia chegou a hora de voltar para o Rio de Janeiro, sua terra natal e onde passaria o resto de sua vida. No lido é que começou a brincar carnaval, ouvindo "Mamãe eu quero" e "Touradas de Madrid". O bloco de sujo que fazia parte ensaiava no cemitério. A molecada se encontrava perto da quadra IV, que ainda estava em construção, e os defuntos ali enterrados não reclamavam do barulho. "A avenida Rio Branco era um deslumbramento só" - mão dupla, tudo decorado, cheia de grupos fantasiados. Entre os carros, desfilavam os cordões, grupos e blocos com muitos pierrôs, arlequins, tiroleses, holandeses e muitas colombinas também. Passa o tempo, passa a guerra, passa a ditadura Vargas, o tempo vai correndo e nosso heroi vai se tornando mais adulto e mais valente. Essa avenida Rio Branco, dos desfiles carnavalescos, era a mesma que abrigava o Teatro Municipal. a Biblioteca Nacional, o Museu e a Escola de Belas Artes. E lá foi ele, atraído pelas artes, para a tal escola, e também para o teatro, onde trabalhou por muito tempo. Foi desse local, numa janela do andar superior, seu camarote exclusivo, que viu pela primeira vez um desfile de escola de samba, com Natal reclamando e a Portela evoluindo, ali, naquela mesma avenida. Um dia, foi convidado para fazer parte do júri das escolas de samba. Aceitou. E foi também na Avenida Rio Branco que, encarapitado num palanque de madeira, viu um desfile bastante sui-generis. "A primeira escola quebrou o eixo do carro... Que entre a segunda... Mas a segunda só entraria se a primeira entrasse...Então que entre a terceira... E nada da terceira, e nada da quarta também - Às onze e meia da noite, chega alguém avisando que a quinta iria desfilar - até que enfim..." A quinta era o Salgueiro, apresentando enredo sobre Debret - o que cativou nosso jurado: em vez de "Panteão de Glória", "Batalhas de Tuiuti", etc., cantava um artista - Debret. Foi desse dia em diante que nosso personagem tornou-se carnavalesco e salgueirense - as cores vermelho e branco ainda por cima o remetiam ao time de futebol lá do Rio Branco, quando ainda era menino. Não espera receber o convite para desenvolver o enredo para o Salgueiro, no ano seguinte. Escolheu a resistência negra durante o período da escravidão, Nzambi dos Palmares, ou Zumbi dos Palmares, assunto que não era focalizado pelas escolas. Virou filme, e Zumbi hoje é símbolo de resistência. Descobriu para o povo não só o Nzambi como Xica da Silva (foi um estouro!), Aleijadinho, e acabou desencavando um enredo sobre uma visita de um rei negro a Mauricio de Nassau - cuja música foi cantada não só no carnaval como em estádios de futebol, casamentos, e até hoje faz sucesso - "Olêlê, Olálá, Pega no Ganzê, Pega no Ganzá". Apesar das vitórias, havia uma certa crítica negativa a ele, dizendo que não se deveria interferir numa manifestação popular. Tinham esquecido que, desde a década de 40, as escolas contratavam artistas eruditos e profissionais para realizarem seus enredos. No ano do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, o tema escolhido foi "História do Carnaval Carioca", que retratava o carnaval carioca e o baile dos pierrôs, produzido por Eneida todo ano. Jogaram muito confete e serpentina durante o desfile, e os garis estavam esperando o Salgueiro sair da avenida para limpar tudo antes do desfile da Portela. Provocativos, os salgueirenses disseram que aquela era a comissão de frente da Portela. Os portelenses obrigaram os garis a irem limpando a pista no final do desfile do Salgueiro. Foi a apoteose - !Puxa, não esqueceram nada, tem até os garis limpando o final da festa!". Esses garis foram aproveitados mais tarde pelo Joãosinho Trinta no seu famoso desfile dos Ratos e Urubus. Na época, João era aderecista e bailarino. Acabou abandonando a dança e tornou-se carnavalesco, mas esta já é uma outra história... O nosso heroi fez outros carnavais vitoriosos. Depois, passou a bola adiante e foi se dedicar a vários afazeres nas TVs para as quais trabalhava. Um dia, cansado da vida, foi embora, acho que um pouco contrariado, pois viver foi sempre uma aventura que encarou sem medo. Deve ter sido recebido por uma extensa corte - Nzambi, Aleijadinho, Xica da Silva e outros tantos negros e mulatos que fazem parte da cultura deste país mulato. Agitando bandeirinhas, eles gritaram em coro: "Pamplona, Pamplona, Pamplona.." Rosa Magalhães |
CONHECENDO O ENREDO DA GRANDE RIO
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
"A GRANDE RIO É DO BARALHO" |
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Carnavalesco: Fábio Ricardo Para muitos o Carnaval é um jogo. Já que é assim, a Grande Rio entra na partida e, para começar, dá as cartas. Atiçando nossa imaginação, no seio da criatividade, reaviva o simbolismo dos tempos remotos, e, ao poder econômico, dá o Ouros. Ao poder militar, Espadas. Copas para o poder religioso. Paus ao poder político, que no povo encontra seu alicerce. A seguir, saca a figura de um Rei. Em seguida, a de uma Dama. Completando, um Valete. Diz, de antemão, que um Coringa pode trazer sorte, mas o Ás – que é trunfo – guarda pra si, como quem esconde "uma carta na manga". Através das cartas ela encontra seu destino. Carta que é "jogo", e também revela os mistérios da adivinhação. Os arcanos maiores do tarô de Marselha previram, mas foram os lábios rubros da cigana que confirmaram: uma "chave" ilustrada na mesa indica que as portas estão abertas. A carta 31 do oráculo cigano reafirmou: o "sol" vai brilhar. É ele quem traz o anúncio de que bons ventos virão com as cinzas da quarta-feira. Os astros se alinham e as estrelas iluminam nossos caminhos. Da mesma forma que nove são as cartas numeradas, nove são os planetas do sistema solar. Assim como quatro são os naipes, quatro são os elementos estabelecidos pela Astrologia – o fogo, a terra, a água e o ar – que, por sua vez, dividem os doze signos zodiacais. Há quem guarde um coringa... quem trate a disputa com a malícia de um poker, a inteligência de uma partida de sueca ou como os velhos malandros, bons no carteado. Previ, sonhei e imaginei. A Grande Rio despista os jogadores e dá sua cartada na Avenida. A sorte está lançada! Façam suas apostas! Pesquisa e Texto: Leandro Vieira e Roberto Vilaronga |
CONHECENDO O ENREDO DO SALGUEIRO
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
"DO FUNDO DO QUINTAL, SABERES E SABORES NA SAPUCAÍ" |
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Carnavalescos: Renato Lage e Márcia Lage Os primeiros habitantes Afastada do litoral, a região do Serro do Frio, em Minas Gerais, antes da chegada dos colonizadores, era habitada pelos índios botocudos. Tratava-se de uma tribo conhecida pelas enormes argolas enfiadas nos lábios e nos lóbulos das orelhas. Da presença indígena, a cozinha mineira herdou muitos elementos, como o uso de raízes e brotos, os frutos encontrados no mato, a caça, a pesca, os utensílios, os modos de preparo e tempero dos alimentos, enfim, o aproveitamento dos recursos que a terra dava. Conta certa crônica escrita por um viajante europeu que os índios desta região tinham como hábito degustar um verme que vivia no broto da taquara, uma espécie de bambu. Os nativos faziam com ele uma excelente iguaria parecida com um creme que ressaltava o sabor dos alimentos. Usado de outra forma, o "bicho-da-taquara", como era também conhecido, uma vez seco e triturado em pó, servia como poderoso sonífero. Isto proporcionava longas noites de sono repletas de sonhos maravilhosos por terras desconhecidas e de exuberantes paisagens, paraíso de cores e sensações inesperadas. Aquele que o consumia, era transportado para um mundo imaginário fascinante! A corrida do ouro Os bandeirantes avançaram pelo território brasileiro em busca de riquezas. Levavam na bagagem, nos lombos dos burros, o modo de cozinhar dos tropeiros que produziam uma comida seca e fácil de ser transportada. Comida não perecível, de quem fica pouco tempo em um só lugar. As bandeiras tinham que se virar com o pouco que tinham à mão, daí recorrerem à caça e à pesca, aos talos e folhas e outras tantas ervas que encontravam pelos caminhos. Por volta de 1693, foi descoberto ouro em Minas Gerais. Logo teve início uma corrida desenfreada atrás de seus veios. Esmeraldas e diamantes atraíram gente de toda parte do Brasil e da Europa. Portugal teve que abrir o olho, mandou fiscais, militares e estabeleceu uma alfândega para evitar o contrabando dos metais e pedras preciosas. Nesse período a população cresceu, os pequenos povoados viraram vilas com casas de alvenaria e sobrados de dois andares que ocuparam o lugar das palhoças de pau-a-pique. Modos e modas da metrópole se espelhavam no comportamento das sinhás e sinhazinhas, que trouxeram tecidos e rendas, louças e talheres, novos ingredientes para aprimorar ainda mais a cozinha mineira. Alucinados pela febre do ouro muitos abandonaram a lavoura e se dedicaram à exploração das minas. Logo a escassez de alimentos se fez sentir. Havia ouro, mas faltava comida. Com o preço dos alimentos subindo sem parar, muita gente passou fome. E como a necessidade é mãe da invenção, o mineiro daqueles tempos foi buscar soluções até então impensadas. Exigia-se o aproveitamento de tudo. O que antes era rejeitado, agora era incorporado num novo prato, num novo modo de preparo. Daí vem o jeito mineiro, sempre cauteloso e prevenido. Ou seja, a abundante cozinha típica mineira surgiu da fome. Os escravos das minas A notícia da descoberta do ouro trouxe para Minas milhares de escravos vindos de outras regiões do Brasil, principalmente daquelas onde a cana-de-açúcar prosperava. Outros vieram diretamente do continente africano, o que causou um espantoso aumento da população negra em Minas. Esta migração forçada e sofrida deixou sua marca indelével na cultura mineira, seja na religiosidade, na música e na dança e, sobretudo, na cozinha, formando junto com o indígena e o branco colonizador a "Saborosíssima Trindade" da tão variada culinária de Minas. "Depois do idioma, a comida é o mais importante elo entre o homem e a cultura". - (Raul Lody) A cozinha "O cartāo de visitas de um local é a sua cozinha. Ela ensina, pelo sabor, seus saberes". Um prato típico é aquele que preserva e envolve muitos saberes no seu conteúdo, saberes que não se perderam no tempo. Cada utensílio de cozinha, como pilões, tachos, gamelas, colheres de pau, panelas de ferro ou de pedra sabão. Cada tempero como o imprescindível alho e sal, o urucum, a pimenta, cada folha vinda do mato ou da horta, como o "ora-pro-nobis" e a couve, cada ingrediente como a gordura de porco, a farinha ou a cachaça, tudo guarda em si um conhecimento ancestral, que atravessa as gerações e faz sentir no presente as lembranças e os afetos que nos remetem a outros tempos e lugares vividos. As receitas culinárias de Minas são inumeráveis. Misturas de magia afro-indígena, da sofisticação luso-europeias, mas o princípio fundamental em todas elas, dito com propriedade, é: "O primeiro ingrediente que vai na panela é o amor". A comida e a fé, sustentáculos do homem da terra... Era preciso ter disposição e força para encarar o trabalho duro. E haja angu e rapadura para vencer a lida! Mas mesmo quando a comida era pouca, havia a fé, havia a crença, que superava as dificuldades e enchia de esperança o futuro. Em Minas, a devoção está para o homem como o sol está para a vida. Sob a luz de Nossa Senhora do Rosário o "ora-pro-nobis" toma gosto e ganha tom! Todos em uma só voz entoam as angústias e as glórias de um povo que sobreviveu à escravidão. Todos honram à padroeira da cidade do Serro, nas figuras de índios, reis, juízes e marujos. Aqui as três raças se consagram: índios, brancos e negros louvam em uníssono àquela que guarda e protege a todos sem fazer distinção. Homens e mulheres unem-se num ato de amor e gratidão por tudo o que a terra e a vida lhes deram sob a bênção de Nossa Senhora, cantando, seguindo em procissão, e, é claro, compartilhando os quitutes da boa mesa, da divina comida mineira, temperada com uma boa pitada de generosidade. E eis o grande milagre: Colher de pau, pilão, tacho de cobre. Fogo de chão, gamela, fogão de lenha. É com amor que o mineiro põe a mesa, É atiçar o fogo e manter a chama acesa! (Renato Lage e Márcia Lage) OBS - Este enredo é baseado no livro "História da Arte da Cozinha Mineira", de Dona Lucinha (Maria Lúcia Clementino Nunes). Folhear essa obra é fazer um aprendizado sobre os costumes de Minas Gerais, suas tradições, suas deliciosas receitas. É seguir os caminhos que levaram à descoberta do ouro e se aprofundar na história do Brasil. Nosso enredo para o carnaval de 2015 é uma viagem através dos sabores que Minas Gerais oferece e resguarda nos saberes que cada prato típico preserva através do tempo. |
CONHECENDO O ENREDO DA VILA ISABEL
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
"O MAESTRO BRASILEIRO NA TERRA DE NOEL... TEM PARTITURA AZUL E BRANCA DA NOSSA VILA ISABEL" |
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Ideia Original e Carnavalesco: Max Lopes Pesquisa e Texto: Marcos Roza Preparem-se para um grande concerto! O maestro sobe ao púlpito, exercendo uma função primordial como "elemento de ligação das ideias do compositor aos instrumentistas e/ou cantores", e, suavemente, ergue a batuta ao ato sublime que transcende a essa dualidade e se lança aos encantos da regência sinfônica, inscrita "dentro de parâmetros do imponderável, da mítica, da aura que acompanha o artista e determina a sua sonoridade". Sua regência é mais que um gesto, ruma-nos à poesia dos sons, traduz das partituras a emoção da formação de um povo, a genialidade espontânea da criação, a musicalidade orquestrada à inspiração de significativas apresentações que provêm do canto e do balé. Numa relação humana onde o elemento principal é a música, o maestro Isaac Karabtchevsky transforma a Sapucaí num palco e rege o enredo do meu samba: "O Maestro brasileiro na terra de Noel... Tem partitura azul e branca da nossa Vila Isabel". Em tons graves, agudos, altos ou baixos...as notas musicais saltam dos instrumentos. Afinam-se cordas, metais, sopros, percussão... Os efeitos sonoros vão criando uma incrível e mágica sonoplastia... E de uma forma livre e espontânea, o prelúdio se inicia. Tudo pronto. Ouvimos o terceiro sinal. Deixem-se contagiar pelos sentidos da música. Peguem seus libretos, o espetáculo vai começar! Na forja do destino, um momento divino: "Faunos" entoam seus sons cristalinos. Envolvidos pela poesia, a saudade aperta em nosso peito. Em tempo de inspiração, os "retratos da vida" são o cocar da cultura do nosso Brasil. De um índio, bravo nativo, chamado Guarani – que se veste de paixão e luta para conquistar seu grande amor. Viajamos pelo canto do "Uirapuru" e descobrimos cada pedacinho desse chão. Do "Concerto da Floresta" ao sertão brasileiro, seguimos pelos trilhos do "bachiano menino" a todo o vapor. Pulsantes sejam o "canto da alma caipira" e o "canto da nossa terra", aventuras de meninos moleques e de seus coloridos papagaios, a matriz da genuína cultura brasileira! "Corremos pelas partituras de mãos dadas com notas musicais" ao requinte de sinfonias clássicas, barrocas e românticas. Suítes, sonatas, concertos...embalam, musicalmente, as "Quatro Estações" dos fenômenos da Natureza; enredam-se pelo amor shakespeariano de "Romeu e Julieta", pelas aventuras de "Fígaro", o astuto criado da velha Sevilha, e protagonizam um conjunto de revelações e disfarces num festivo e simbólico "Baile de Máscaras". Seus sons, ainda entrelaçam-se às nuances, aos detalhes, às "cores" que a voz consegue, sem possibilidade de confronto, reproduzir, navegando por entre mares de compassos, declamações líricas à ousadia do capitão, o que carrega uma maldição por desafiar "Satanás" a bordo de um "O Navio Fantasma". Um momento esplêndido: o maestro reduz seu gesto à proporção justa. Expressa o máximo com o mínimo...respira com a orquestra! Um espetáculo à parte. Allegro, avante... Seu realismo fantástico cruza as fronteiras da criação com a regência da Nona Sinfonia de Beethoven! Entre românticos arcos de flores, a "Sagração da Primavera"! Linda é a bailarina, princesa, camponesa que, ao som da sinfonia, reflete o brilho de raro esplendor do "Lago dos Cisnes". Não há quem não se emocione com a majestosa e exuberante coreografia, aventurando-se, sob muitas formas, diante do "fogo sagrado" de "La Bayadère". Nem com "Balé de Bolshoi", com o "Quebra Nozes" e com tantos outros... É girando na ponta dos pés que a orquestra revela a emoção da "arte dos passos". Nossos olhos, sem mais prova, atestam, deslumbrados, um magnífico espetáculo. Diante do que se vê, sopranos e tenores entoam da arte teatral: a ópera, voz encenada em drama musical. Castelos, histórias de amor, contos e fábulas...faces do imaginário, um tom magistral de sonhos em sintonia com a vida. Ó magia! Sob a partitura azul e branca, tudo soa, recebendo, em si, o sopro que do Brasil ecoa. Vem, meu "povo do samba", desfrutar dessa música boa, de um "Aquarius Concerto", ao solo de um pandeiro e renascer das cinzas nos versos de um "senhor partideiro": Martinho da Vila. Vem com a Vila Isabel, com seu reduto de bambas que "não quer abafar ninguém", "só quer mostrar que faz samba também. |
CONHECENDO O ENREDO DA MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
"SE O MUNDO FOSSE ACABAR, ME DIZ O QUE VOCÊ FARIA SE SÓ TE RESTASSE UM DIA?" |
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Carnavalesco: Paulo Barros A Mocidade Independente de Padre Miguel quer provocar a imaginação do público e pergunta: Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia? Em uma livre adaptação da música O último dia, de Paulinho Moska e Billy Brandão, o enredo de 2015 retoma um tema inquietante que sempre impressionou a humanidade com suas previsões e profecias: afinal, o fim do mundo parece estar sempre próximo... Mas o que você faria diante da possibilidade de um ponto final na aventura do homem na Terra? Se o mundo fosse realmente acabar e restasse apenas um dia para viver, apenas um último dia... O que você faria? "Meu amor O que você faria se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar Me diz o que você faria?" Se os prédios e avenidas que você conhecia ruíssem sob os seus pés "Me diz o que você faria?" Se um dia, você descobrisse que não mentiam as profecias Sábios sabiam, santos sentiam, videntes já viam Papas pregavam, rezavam, pediam E os bruxos, o futuro já liam Premonições, pesadelos, o fim do mundo os sonhos previam Não eram loucos, eram guias "Me diz o que você faria?" "Abria a porta do hospício", soltava a sua alegria? Agora a loucura é real, juízo final, é o último dia "Meu amor O que você faria se só te restasse um dia?" "Corria para um shopping center Ou para uma academia?" Enquanto o mundo se desfaz, me diz o que você faria Aproveitava esse tempo, no mesmo ritmo e compasso Você manteria a rotina, tudo igual, passo a passo? Se o tempo não voltasse atrás, me diz, você brincaria? Ficava de bem com a vida, com os amigos se divertia Se não houvesse amanhã, cantava, dançava, sorria Passava as horas, minutos, segundos, até terminar esse dia? "Meu amor O que você faria se só te restasse esse dia?" Botava pra fora a tristeza, soltava o que reprimia Tirava a roupa e saía, fugia para o meio da rua "Andava pelado na chuva", fazia amor sem censura, o que te prendia? Lançava seu corpo no ar, você aprendia a voar, meu amor Vivia. E o que há pra viver, nesse último dia? Fazia o mundo girar, matava a sede, morria Se o mundo fosse acabar, me diz, ganhava a rua e sumia? E o prazer de viver até onde te levaria? "Dinamitava o meu carro, parava o tráfego e ria" "O que você faria se só te restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar Me diz o que você faria?" Se o chão tremesse aos seus pés, e você não tivesse saída E se as águas rolassem, arrastando a multidão Pegava a fantasia pra brincar na Avenida O que você faria, meu amor? Batia um bumbo com força, esquentava o tamborim Rodava a baiana, levava o estandarte, anunciava a folia Vinha na Mocidade sambando sem parar Acreditava que, assim, você sobreviveria? No último dia, afinal, se fosse carnaval, você se acabaria? |
CONHECENDO O ENREDO DA MANGUEIRA
Vale muito a pena ler pra poder conhecer e entender: o enredo e sua história quando sua escola de samba passar.
"AGORA CHEGOU A VEZ VOU CANTAR: MULHER DA MANGUEIRA, MULHER BRASILEIRA EM PRIMIMEIRO LUGAR" |
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Carnavalesco: Cid Carvalho Tudo era festa no meu tempo de menino. Nascido e criado em Mangueira, o morro e seus bairros eram o meu quintal, mas também a minha casa, o meu mundo, o meu reduto para brincar, para aprender as duras lições da vida e, para sonhar... Habitada por gente simples e tão pobre/ que só tem o sol que a todos cobre... Cantarolava eu, que nem conhecia Cartola, contudo por intuição percebia a resposta ao como podes Mangueira cantar? De verso em verso, a intuição virava convicção: eu digo e afirmo que a felicidade e os sonhos aqui moram, e aí estava a chave de tudo – a felicidade e os sonhos. Por aqui, até nossos barracos são castelos/ em nossa imaginação... Sonhou feliz, Nelson Cavaquinho. Certa vez, deitado no chão e olhando para o alto e a imaginar o morro todo em verde e rosa, descobri que a natureza já tinha feito a sua parte. As mangueiras, muitas mangueiras, coloriam a paisagem com todo o verde possível e necessário. Nesse dia entendi a razão/ inspiração do verso Mangueira, teu cenário é uma beleza/ que a natureza criou... Só faltava o rosa, pensei. (1) Foi há muito tempo que ouvi falar pela primeira vez das grandes mulheres de Mangueira. Vovó Lucíola, parteira que ajudou muitos mangueirenses a chegar ao mundo, dona de uma sabedoria de preta velha, e que muitos diziam ser mais antiga que o próprio morro, me contou, com riqueza de detalhes, lindas histórias de doçura e de bravura, que me encantaram a alma e invadiram a minha imaginação. Ainda lembro quando vovó me pegou pelo braço e apontou uma frondosa mangueira no alto do morro e falou: "tá vendo aquela árvore, "fio"?" Enxuguei as lágrimas que insistiam em molhar meu rosto e firmei o olhar na direção apontada. E, continuou vovó: "ela é como um elo entre as mulheres do morro e a nossa Escola de Samba. A raiz, o tronco resistente e os galhos cheios de folhas, servem para proteger as flores que se transformarão em frutos. Assim, também, são as mulheres, daqui e de qualquer lugar, "fio"! Nós somos como as árvores, como a natureza, geramos vida e continuidade através dos nossos frutos. Assim é a nossa vivência e nossa contribuição com a Mangueira!". Neste dia entendi que o que estava faltando era o rosa feminino daquelas mulheres para fazer par com o verde das mangueiras... Eram as "ROSAS" de Mangueira que estavam faltando! Tudo agora fazia sentido! Os homens foram a raiz e o tronco, mas as mulheres foram as flores, as "ROSAS" que geraram os frutos mais doces que a Mangueira me deu! Algum tempo depois, novamente deitado no chão e olhando as mangueiras, agora enfeitadas de flores, lembrei-me da minha conversa com vovó Lucíola. Lentamente adormeci e sonhei. Sonhei com as grandes mulheres de Mangueira recebendo outras grandes mulheres do Brasil para um magistral desfile de carnaval. Sonhei que era primavera no morro e as "ROSAS", em verso e prosa, novamente, desabrocharam com todo o seu esplendor. Venham divinas damas que carregam no sangue esta nobreza ancestral, despertem para sonhar novamente e ouçam os versos mais belos que o poeta compôs para lhes ofertar. Por mais esta noite, desçam o morro em cortejo para reinar na folia como legítimas representantes da dinastia do samba, pois é através de suas memórias que a Mangueira vem contar e cantar a trajetória de outras grandes mulheres do Brasil. Venha vovó Lucíola, e seja novamente a minha guia! Deixe o doce perfume de suas lembranças invadir o meu sonho, entorpecer a minha alma e se espalhar por ruas, becos e vielas. Na liberdade que somente a poesia e os sonhos podem conceder, vejo os barracos/castelos enfeitados com guirlandas florais e o povo vestido com fidalguia para a noite triunfal. E as baianas giram e o movimento de suas saias me faz recordar as histórias de valentia e superação que havia escutado muito tempo atrás. Então, presencio Tia Fé, anciã que carrega no próprio nome a força da religiosidade das mulheres do morro, sendo aclamada como uma verdadeira quebradeira de grilhões na aurora da Estação Primeira, e glorifico as mães do samba. Salve as "Candaces do Brasil"! Salve Suluca da Mangueira, tal como Chica da Silva, uma autêntica herdeira da realeza africana! Orayê yê o, Ciata de Oxum; a sua benção Mãe Menininha do Gantois! Os acordes afinados de um violão me chamam a atenção e uma suave melodia embala o meu sonho. Não demora e o coro, ao longe, também se faz ouvir e o canto harmonioso das pastorinhas de Mangueira atravessa a barreira do tempo, unindo passado e presente e, num compasso emocionante, faz-se ecoar pelas vozes das grandes cantoras mangueirenses, que hoje cantam em homenagem às grandes intérpretes do Brasil. E tem Chica, Chica Boom e balangandãs para todo o lado e disputas acirradas entre as Rainhas do rádio. Mas, sempre haverá uma "bandeira branca" para "clarear" a alegria! O morro é festeiro e transpira musicalidade. E tem jongo e maxixe nos cordões de velhos, mas a batucada é soberana para embalar a cantoria e animar o povão quando chega o carnaval. Protegida pela Guarda Real da bateria, a rainha desce as escadarias do seu castelo, no alto do morro, e se posta à frente dos ritmistas com altivez monárquica para receber as rainhas da beleza brasileira, lideradas por Gisele Bündchen e Marta Rocha coroada, com a faixa no peito e o cetro na mão. Trajes típicos desfilam a nossa brasilidade e se misturam às mulatas e cabrochas em apresentação apoteótica. No meu sonho "Real", o Buraco Quente se transforma em passarela de moda e de samba; porque, no reinado de Momo, todas as mulheres são belas rainhas e nós, os seus súditos. E, tudo em Mangueira é belo e tem seus fundamentos! Feito um ritual mágico, tia Lina se posiciona para ser reverenciada como a primeira Porta-Bandeira da verde e rosa. Percebo os guardiões abrindo caminho enquanto o pavilhão mangueirense flutua em meio ao povo, conduzido com graça e elegância, ora por Neide, ora por Mocinha. É a arte em movimento antropofágico de Tarsila! É a delicadeza das mãos nos versos de Raquel de Queiroz; é a sensibilidade feminina transmitida em cores e gestos; é o poder da arte derrubando barreiras e preconceitos e empunhando a bandeira da igualdade. As vozes se multiplicam e a cantoria aumenta. Mas é preciso concentração! Uma voz se destaca entre todas as outras e se faz respeitar! Em Mangueira, berço de grandes guerreiras, Dona Neuma, mulher de fibra, prestígio e liderança, é quem toma as rédeas da situação, seja nas árduas batalhas da vida, no dia a dia do morro ou nas alegres batalhas de confetes e serpentina. Sempre com a firmeza e a sensibilidade de uma líder nata. Quando necessário, fazia-se Maria Quitéria nas pelejas para defender o samba e a Mangueira, mas se alguém precisasse de auxílio, rapidamente se transformava em Ana Néri para socorrer. Então, respeitem quem pode chegar aonde elas chegaram e abram alas para todas as mulheres que se colocaram à frente de seus tempos e que, nunca estiveram à espera de príncipes encantados para lhes salvar! São estas mulheres que nos conquistam pela simplicidade e, ao mesmo tempo, se impõem pela grandiosidade, e que hoje, personificadas em Dona Zica e aclamadas em um desfile triunfal, recebem de Mangueira o que a história oficial muitas vezes lhes negou: a valorização e o reconhecimento. Que seus exemplos de força e persistência se transformem em uma espécie de vento suave e contínuo capaz de tremular no ponto mais alto das nossas consciências a legítima bandeira verde e rosa... Que o rosa possa significar a mais singela tradução do nosso reconhecimento a todas as mulheres deste país... E que o verde possa transmitir a nossa esperança por igualdade de direitos, para a honra e glória daquelas que lutaram e ainda lutam por dignidade. Ainda inebriado, sinto o rosa da alvorada no morro a me despertar. Percebo que o meu sonho está chegando ao fim, não no sentido de acabar, mas porque está se tornando realidade! A sua benção vovó Lucíola e, obrigado por me permitir sonhar, por esta noite, o seu sonho maior de igualdade e respeito a todas as mulheres. É a sua, a nossa Mangueira que está na Avenida e, todas as Marias com as latas d'água nas cabeças, as negas mais malucas do que nunca, as cabrochas e mulatas e as senhoras do Departamento Feminino e da Velha-Guarda, vêm saudar as nossas Ritas Lee, as nossas Martas Vieira da Silva, as nossas Marias da Penha e as nossas Fernandas Montenegro porque, para honra e glória do Brasil, "Agora Chegou a Vez, Vou Cantar: Mulher de Mangueira, Mulher Brasileira Em Primeiro Lugar!" (Cid Carvalho) (1) Trecho retirado da revista: Mangueira, Paixão em Verde e Rosa de 2005. Texto do então Presidente da Agremiação Álvaro Luiz Caetano e livremente adaptado por Cid Carvalho. |
DESFILE DAS ESCOLAS MIRINS - CARNAVAL 2015
Definida ordem de apresentação das Escolas de Samba Mirins | |
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