Introdução:
A sua existência é real ou imaginária? Verdades? Mitos?
Essa história, que desabrochou em nossos dias, correu do oriente ao ocidente, das missas aos rituais, ao longo dos séculos através das religiões, das lendas, do boca a boca, da imagem nos atraindo, seja pelas suas belas características físicas ou pelos seus mistérios.
Todas as religiões em que o santo é reverenciado têm um ponto comum respeitado, o vermelho que predomina em sua capa esvoaçante, despojada, que nos lembra a energia belicosa, agressiva, guerreira, audaciosa, associada à mesma energia do planeta marte, o planeta vermelho, ligado ao seu nascimento.
Marte emite fortes vibrações como também São Jorge, que tem seu nome repleto de energia e só de pronunciá-lo, seus devotos se enchem de coragem. São Jorge é tão amado, tão carismático e tão diversificado que atende aos pedidos dos fracos, desesperados, mendigos e marginalizados. Santo de todas as crenças, de todas as sociedades e raças: São Jorge.
Sua vida, sua caminhada foi breve, mas deixou o exemplo do seu maior objetivo: a aceitação da fé.
São Jorge meu guerreiro invencível, defensor da fé, faz com que seus filhos tenham alma de guerreiro e vivam sempre com esperança sem se cansarem da luta. Salve Jorge.
Setor 1- Capadócia
A Capadócia fica no coração da Turquia, região histórica, no centro da Anatólia central, em uma área onde foi o cruzamento de rotas comerciais entre a região litorânea e a região oriental.
Essa rota nos tempos antigos era utilizada pelos mercadores para comércio de especiarias e produtos vindos do Oriente para a Europa, através do Mar Egeu e Mediterrâneo.
Outra rota era a travessia pelo Bósforo, adentrando pela Bulgária para chegar a Romênia, Áustria e Alemanha.
Capadócia, com seu solo de pedras de fácil manuseio e geografia diferenciada, permitiu que o homem construísse suas moradias, igrejas, labirintos; enfim, uma verdadeira civilização diretamente na rocha que são chamadas de casas e igrejas “trogloditas”.
Neste berço de pedras por onde passaram várias civilizações, nasceu Jorge no ano 275 D.C. , teve uma educação de muito esmero, requintada e auxiliada pelos sacerdotes, enquanto esteve com sua mãe na cidade de Lidia, após a morte de seu pai que era militar.
Na adolescência, Jorge, ariano, recebe do planeta Vermelho vibrações e energias, fazendo sua natureza aguerrida, ingressou na carreira de armas, logo foi promovido a capitão do exército Romano do imperador Diocleciano e por sua dedicação e qualidade foi agraciado com título de conde da Capadócia, chegando aos 23 anos exercendo a função de tribuno militar.
Fiel a sua fé, após a morte de sua mãe, mudou-se para corte do imperador e distribuiu toda sua herança aos cristãos pobres que já sofriam crueldades da época. Nesta ocasião desentendeu-se com o imperador e declarou a fé em cristo.
Setor 2- Martírio e a Fé
Jorge, ao se declarar cristão e não abdicar de sua fé, causou grande fúria ao imperador que tentou por várias vezes induzi-lo a desistir de sua crença e passou a ser seu tirano com infinitas crueldades, começando aí seu martírio.
Por ordem do imperador, começa o ciclo de torturas ao jovem incorruptível que era perguntado se renegaria a Jesus. Das pontas de lança que se desdobravam, esmagamentos com grandes pedras, rodas gigantes cheias de navalhas, enterrado vivo em uma fornalha de cal virgem, chinelas de pedra ardente, fez com que o imperador achasse que ele conhecia e praticava a arte da magia. Foi chamado um mago mágico alquimista, pois atribuía à magia a sobrevivência do jovem santo. Depois de enfrentar sua fé com vários truques, como porções de veneno para ressuscitar defuntos, acabou convertendo o mágico para o bem. O imperador furioso ordenou que fossem os dois decapitados.
Mais uma prova foi imposta a Jorge com seu consentimento. Após ter sonhado com o senhor, foi levado onde estava a estátua de Apolo para mais um sacrifício segundo a vontade do imperador.
Jorge estende sua mão e indignado com o demônio que estava dentro da estátua, após um duelo, teve uma conversa prolongada com o ser do mal. O ídolo ruiu.
Entregou sua alma nas mãos dos anjos em 23 de abril fazendo uma excelente confissão de fé pura e sã, no ano 303 D.C., terminando seu calvário que durou sete anos.
No século V, a fé ao santo da Capadócia já havia se espalhado e existiam mais de 50 igrejas dedicadas a ele.
Setor 3- São Jorge no mundo.
São Jorge é padroeiro de vários países e cidades, destacando seu patronato na Inglaterra, Portugal e Catalunha.
Entretanto, sabemos que ele também é padroeiro dos escoteiros, de vários exércitos, das cavalarias, Jarreteiros e até time de futebol.
Na Armênia, em Bizâncio, no estreito de Bósforo, na Grécia, São Jorge era inscrito entre os maiores santos da igreja Católica, o mártir cristão.
Acredita-se que o santo teria sido escolhido para ser padroeiro do reino quando o Rei Eduardo III fundou a ordem das Jarreteira, também conhecida como ordem dos cavaleiros de São Jorge. No século VI, em Camelot, o Rei Arthur teria colocado a imagem de São Jorge em sua bandeira.
O Rei inglês Ricardo I, comandante de uma das primeiras cruzadas, constituiu São Jorge padroeiro daquelas expedições que tentaram reconquistar a Terra Santa dos mulçumanos.
A cruz foi para a farda e bandeira das cruzadas por devoção do rei.
Na Catalunha, o dia 23 de abril é dia de São Jorge, da rosa, do livro, do amor e da cultura, a data ainda coincide com a morte de Cervantes e William Shakespeare, os dois grandes homens das letras.
Setor 4- São Jorge e a lenda.
Vários milagres e outras tantas lendas foram atribuídas a São Jorge, sendo a mais famosa e interessante, a que relata a sua luta contra o dragão. O dragão, o cavalo e o guerreiro são três símbolos muito fortes nesta lenda: o dragão representa a idolatria; o cavalo, a Capadócia e o guerreiro, a fé. Nesta batalha, o santo foi protegido repetidas vezes por espinhos de uma laranjeira, vencendo o mal, consegue defender a donzela pura, que confessou acreditar em seu Deus, tornando-se cristã.
Setor 5- São Jorge em terras brasileiras.
Na história, pensa-se que os cruzados ingleses que ajudaram o Rei Dom Afonso Henrique a conquistar Lisboa em 1147 teriam sido os primeiros a trazer a devoção de São Jorge para Portugal.
O Rei D. João I de Portugal era também muito devoto do santo e foi no seu reinado que São Jorge passou a ser padroeiro de Portugal. Em 1387, D. João I ordenou que a imagem a cavalo fosse transportada na procissão de Corpus Christi.
A irmandade de São Jorge cruza os mares, depois de instalada na igreja Nossa Senhora do Bom Parto, no centro do Rio de Janeiro abre suas portas aos negros e a quem trabalha com o ofício de ferro e fogo.
Ele é o ogum, o primeiro, o número um, um defensor desta fé, santo guerreiro, São Jorge do Rio de Janeiro.
O sincretismo religioso acontece como proteção a cultura afro-descendente que começa a travar conexões entre o santo e o Orixá Ogum, dando continuidade a devoção ao santo.
E hoje... São Jorge, guerreiro incansável, nome repleto de luz contagiante que emite aos sambistas esta mesma coragem audaciosa, fazendo-os incorporar o guerreiro invencível e levar para avenida uma explosão de energia estampada em seu manto vermelho, onde aconteceu o grande fenômeno:
O sacro e profano se encontram em comunhão de força em forma de oração.
Acordamos com a alvorada 21 tiros para saudar o soldado Jorge, toca o clarinete e o badalar do sino chamando os fiéis.
Pouco a pouco, um a um, embalados nesta fé inexplicável, chegam para a cerimônia que contagia, percebemos que todos têm no olhar a esperança de dias melhores, lutam para matar os dragões que aparecem em nossa caminhada, é a força do guerreiro Jorge estampada em nossos corações.
O carioca se identifica com esta perseverança, não desiste, não desanima, espelha-se em são Jorge com a rosa na mão, a espada no cinto e a fé no coração.
Parece uma miragem quando começa a cerimônia, porque aquelas poucas pessoas que chegaram vão se transformando em uma multidão em vermelho e branco que invade o Rio de Janeiro, onde os fiéis de joelho agradecem ou pedem, mas com a mesma garra que São Jorge teve em sua vida e tudo vira um espetáculo inesquecível, indescritível de beleza e fé.
Somente no Brasil existe a ligação entre lua, dragão e São Jorge. A Estácio que fez “A dança da lua” em 1993 resolveu para esse carnaval apostar nesta lua de fé, que os brasileiros, principalmente os cariocas, envolve este santo guerreiro. “Lua de São Jorge, cheia branca inteira, oh, minha bandeira solta na amplidão” do carnaval 2016.
Salve Jorge!
Salve Estácio Sá!
CARNAVALESCOS – Amauri Santos, Chico Spinosa e Tarcísio Zanon
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